segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Homília da terça-feira da 8° da Semana Comum

  I. Introdução

Manifesta-se diante de nós, que seguimos Jesus, a grandiosa obra divina de salvação.

Deixemo-nos embalar pela sugestão do salmista: “Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios”.

II. Comentário

Depois do alerta de Jesus a respeito da partilha dos bens, como vimos ontem, Pedro quer saber o que acontece com eles, que deixaram tudo e o seguiram. Sempre que alguém deixa alguma coisa, tem em vista algo melhor em troca.

Os discípulos que deixaram tudo encontraram em Jesus e na sua mensagem uma causa e valores superiores. Na vida cristã, o ponto de partida e de chegada é sempre Jesus Cristo e o Evangelho como plenitude humana.

Isso é um convite a deixar tudo o que é incompatível com o seguimento a Jesus. Esse seguimento “radical” a Jesus pode trazer incompreensões, perseguições e até a morte, como aconteceu com o próprio Mestre. Jesus procura esclarecer que o “reino do dinheiro” é incompatível com o “Reino de Deus”.

A mensagem do Mestre não despreza a família nem os bens necessários a uma vida digna; ao contrário, propõe solidariedade aos desprovidos desses bens.

III. Atualização

• Hoje consideramos que a salvação precisa se abrir com fé à graça de Cristo, o qual,

porém, põe uma condição exigente: «Vem e segue-me» (Mc 10,21). Os santos tiveram a humildade e a valentia de lhe responder ”sim” e renunciaram a tudo para serem seus amigos. Seu único tesouro está no céu. Deus.

• Compreender isto é fruto da sabedoria, mais valiosa que a prata e o oro É o dom que vem de Deus e se obtém com a oração. Esta sabedoria não permaneceu longe do homem, se aproximou ao seu coração tomando forma na Lei da primeira Aliança selada entre Deus e Israel. Esta Lei a deu Moises: É necessária, mas não suficiente..., porque a salvação —a santidade— vem da graça por meio de Jesus Cristo.

• Pedro e os demais Apóstolos e, inumeráveis amigos de Deus, percorreram este itinerário evangélico, que é exigente, mas colma o coração e, receberam “cem vezes mais...” porque para Deus não há impossíveis




domingo, 27 de fevereiro de 2022

Homília do 8° Domingo do Tempo Comum.

 I. Introdução

O fruto são as ações, mas também as palavras. Das palavras conhece-se a qualidade da árvore. De fato, quem é bom extrai do seu coração e da sua boca o bem, quem é mau extrai o mal, praticando o exercício mais deletério entre nós, a murmuração, o mexerico, falar mal dos outros. Isto destrói: destrói a família, a escola, o lugar de trabalho, o bairro.

Pela língua começam as guerras. Pensemos um momento neste ensinamento de Jesus e façamo-nos uma pergunta: eu falo mal dos outros? Procuro manchar os outros? Para mim é mais fácil ver os defeitos dos outros que os meus? Procuremos corrigir-nos pelo menos um pouco: far-nos-á bem a todos.

II. Comentário

O Evangelho deste domingo continua e conclui o “sermão da planície”. O texto apresenta três pequenas parábolas em forma de questionamento: o cego, o cisco e a árvore.

A parábola do cego e a do cisco no olho são um questionamento a respeito do julgamento que as pessoas tecem sobre os outros. Lucas mostra claramente que devemos ter muito cuidado ao julgar.

Um cego não tem como guiar outro cego. Não dá para guiar os outros enquanto não consegue guiar a si mesmo. Jesus desmascara a hipocrisia que pode haver nas pessoas ao se colocarem acima de outras.

Os discípulos também podem se tornar cegos à medida que não conseguem distinguir os verdadeiros valores do Reino de Deus. Antes de pretender tirar o cisco no olho do outro, é preciso tirar de si tudo o que impede de enxergar bem.

A terceira parábola revela a pessoa a partir das suas ações. A exemplo da árvore, a pessoa é conhecida antes de tudo pelas suas ações. Quem tem consciência justa e reta, realiza atos justos e retos.

A pessoa que é boa tira do seu coração só coisas boas. Ela precisa, porém, cultivar o bem dentro de si para poder ser boa com os outros.

O Evangelho de hoje é uma reflexão sobre o que é ser mestre e ser discípulo na proposta de Jesus e orienta a remover a hipocrisia que pode haver no cristão.

III. Atualização

• «Parece, de facto, que o conhecimento de si próprio é o mais difícil de todos. Nem o

olho que vê as coisas do exterior, se vê a si próprio, e até o nosso entendimento, sempre pronto a julgar o pecado nos outros, é lento a aperceber-se dos seus próprios defeitos» (São Basílio, o Grande)

• «A vida de Cristo converte-se na nossa; recebemos uma nova forma de ser: podemos pensar como Ele, agir como Ele, ver o mundo e as coisas através dos olhos de Jesus» (Francisco)

• «O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade. Esta é o «vínculo da perfeição» (Cl 3, 14) é a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si; é a fonte e o termo da sua prática cristã. A caridade assegura e purifica a nossa capacidade


humana de amar e eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino» (Catecismo da Igreja Católica, no 1.827




sábado, 26 de fevereiro de 2022

Homília do Sábado da 7° Semana Comum

 I. Introdução

Hoje, depois de falar sobre o casamento, levam umas crianças a Jesus. Os mais velhos queriam afastá-los, para não incomodarem o Senhor.

Mas Jesus acolhia-os com amor e abraçava-os: para ir para o céu é preciso ser humilde e pequeno como eles. Jesus é carinhoso e amável. Amas como as crianças

II. Comentário

Hoje, as crianças são notícia. Mais que nunca, as crianças têm muito que dizer, porém que a palavra “criança” significa “aquele que não fala”. O vemos nos meios tecnológicos: eles são capazes de fazê-los funcionar, de usá-los e, até, ensinar aos adultos sua correta utilização. Já dizia um articulista que, «apesar de que as crianças não falam, elas pensam».

No fragmento do Evangelho de Marcos encontramos varias considerações. «Algumas pessoas traziam crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos, porém, as repreenderam» (Mc 10,13). Mas o Senhor, a quem no Evangelho lido nos últimos dias o vimos fazer de tudo para todos, com maior certeza se faz com as crianças. Assim, «Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: ‘Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, porque a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus ́» (Mc 10,14).

A caridade é ordenada: começa pelo mais necessitado. Quem está, pois, mais necessitado, mais “pobre” do que uma criança? Todo mundo tem direito a aproximar-se a Jesus; e a criança é a primeira que gozara deste direito: «Deixai as crianças virem a mim» (Mc 10,14).

Mas vejamos que, ao acolher aos mais necessitados, nós somos os primeiros beneficiados. Por isto, o Mestre adverte: «Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele!» (Mc 10,15). E, correspondendo ao talante simples e aberto das crianças, Ele as «abraçava (...) e, impondo as mãos sobre elas, as abençoava» (Mc 10,16).

Temos de aprender a arte de acolher o Reino de Deus. Quem for como uma criança — como os antigos “pobres de Yaveh”— percebe com facilidade que tudo é um dom, tudo é uma graça. E, para “receber” o favor de Deus, ouvir e contemplar com “silêncio receptivo”. Segundo São Inácio de Antioquia, «vale mais calar e ser, do que falar e não ser (...). Aquele que possui a palavra de Jesus pode também, em verdade, escutar o silêncio de Jesus».

III.

Atualização

Hoje, diante das recriminações à Igreja por gerar miséria ao reprovar os meios anticonceptivos, podemos responder que a miséria se produz pela quebra moral. Não geram a miséria aqueles que educam às pessoas para a fidelidade e o amor, para o respeito à vida e à renúncia, mas sim os que nos dissuadem da moral e fazem juízo de maneira mecânica a às pessoas.

O preservativo parece mais eficaz que a moral, mas crer possível substituir a dignidade moral da pessoa por preservativos para garantir sua liberdade, supõe aviltar de raiz aos seres humanos, provocando justamente o que se pretende impedir: uma sociedade egoísta onde todo o mundo pode manifestar-se sem assumir responsabilidade nenhuma.


• A miséria procede da desmoralização da sociedade, no de sua moralização, e a propaganda do preservativo é parte essencial dessa desmoralização: é a expressão de uma orientação que despreza a pessoa, considerando-a incapaz para o compromisso (com a vida e com o amor fiel).



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Homília da Sexta-feira da 7° Semana Comum

I. Introdução

Hoje, o Evangelho nos convida a situar a realidade do amor em geral – e do matrimônio em particular – em sua genuína perspectiva: a do criador. Deus é amor – só Ele -, e Ele tem instituído o matrimônio.

II. Comentário

O amor humano, se não queres morrer afogado, necessita viver acolhido dentro de um amor mais amplo: o amor eterno de Deus. Não há amor sem eternidade.

O amor humano, contém sempre uma pretensão de eternidade. Nada poderia dizer (nem aceitar): “Te amo por N anos” (por limites ao “te amo” soa como um insulto).

Em consequência: prometer “te amo” só se converte em uma realidade cumprida si se inclui em um amor que proporcione verdadeiramente eternidade.

O amor humano é, em si, uma promessa incumprível: querer eternidade e só poder oferecer limitações. Mas, essa promessa não é insensata nem contraditória, se a eternidade vive nela.

Jesus, fica conosco para que nosso amor seja autêntico: necessitamos a espera de Deus eterno.

III. Atualização

• Hoje, as várias formas hodiernas de dissolução do matrimónio, como as uniões

livres e o “matrimónio de prova”, até ao pseudomatrimónio entre pessoas do mesmo sexo, são ao contrário, expressões de uma liberdade anárquica, que se faz passar indevidamente por verdadeira libertação do homem.

• Uma tal pseudoliberdade funda-se sobre uma banalização do corpo, que inevitavelmente inclui a banalização do homem. O seu pressuposto é que o homem pode fazer de si o que quer: o seu corpo torna-se assim uma coisa secundária, manipulável sob o ponto de vista humano, a ser utilizado como se deseja.

• O “libertinismo”, que se faz passar por descoberta do corpo e do seu valor, é na realidade um dualismo que torna o corpo desprezível, colocando-o por assim dizer fora do ser autêntico e da dignidade da pessoa.

• A verdadeira expressão da liberdade é a capacidade de decidir por uma doação definitiva, na qual a liberdade, doando-se, se reencontra plenamente a si mesma.




quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Homília da QUINTA-FEIRA da 7° Semana Comum

I. Introdução

Todo bem realizado em favor de alguém não perderá seu valor e sua recompensa, não importa de onde ou de quem vier.

Assim como o bem pode vir de fora dos círculos cristãos, também do interior da comunidade cristã podem vir males, escândalos e traições.

II. Comentário

O Mestre alerta para não provocar escândalos contra os pequeninos, que podem ser desestimulados vendo as incoerências dos cristãos. É necessário cortar o mal pela raiz. Jesus usa imagens fortes e simbólicas: cortar a mão e o pé, e arrancar o olho.

Não podemos tomar essas expressões ao pé da letra, são imagens simbólicas que representam as raízes dos males: o olho vê e cobiça, o pé aproxima da coisa cobiçada, e a mão apanha a coisa cobiçada. É o escândalo do egoísmo de quem quer se apossar de tudo.

Talvez se possa dizer que o maior escândalo do mundo de hoje seja a disparidade cada vez maior entre ricos e pobres.

III.

• • • •

Atualização

Jesus exorta-nos a não fazer acordos com o mal, com imagens que impressionam: “Se algo em ti é motivo de escândalo, corta-o”! (cf. vv. 43-48).

Se algo te faz mal, corta-o! Ele não diz: “Se algo é motivo de escândalo, pára, reflete, melhora um pouco...”. Não: “Corta-o! Imediatamente!”.

Nisto Jesus é radical, exigente, mas para o nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e dar frutos no amor.

Então perguntemo-nos: o que há em mim que contrasta com o Evangelho? O que quer Jesus que eu corte concretamente na minha vida?



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Homília da QUARTA-FEIRA da 7° Semana Comum: SÃO POLICARPO BISPO E MÁRTIR (vermelho, pref. Comum ou dos mártires, – ofício da memória)

I. Introdução

Este santo lutou até a morte pela lei de seu Deus e não temeu as ameaças dos ímpios, pois se apoiava numa rocha inabalável.

Policarpo, discípulo direto do apóstolo João, nasceu no ano 69 na atual Turquia. Como bispo de Esmirna, segundo relata Eusébio de Cesareia, ele “enviou cartas às igrejas vizinhas para confirmá-las ou a alguns irmãos para repreendê-los ou para estimulá-los”. Sofreu o martírio em Roma, no ano 155. A seu exemplo, renovemos nossa fé e disposição para dar testemunho de Jesus Cristo.

II. Comentário

Hoje escutamos uma recriminação ao apóstolo João, que vê a gente fazer o bem no nome de Cristo sem formar parte do grupo de seus discípulos: «Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não andava conosco» (Mc 9,38). Jesus nos dá a visão adequada que devemos ter diante destas pessoas: acolhê-las e aumentar essa visão, com humildade respeito a nós mesmos, compartilhando sempre um mesmo nexo de comunhão, uma mesma fé, uma mesma orientação, ou seja, caminhar juntos à perfeição do amor a Deus e ao próximo.

Este modo de viver nossa vocação de “Igreja” nos convida a revisar com paz e seriedade a coerência com que vivemos esta abertura de Jesus Cristo. Enquanto houver “outros” que nos “incomodem” porque fazem o mesmo que nós, isto é um claro indício de que o amor de Cristo ainda não nos impregna em toda sua profundidade, e nos pedirá a “humildade” de aceitar que não esgotamos “toda a sabedoria e o amor de Deus”. Definitivamente, aceitar que somos aqueles que Cristo escolhe para anunciar a todos como a humildade é o caminho para aproximar-nos a Deus.

Jesus obrou assim desde sua Encarnação, quando nos aproxima ao máximo a majestade de Deus na insignificância dos pobres. Diz são João Crisóstomo: «Cristo no se contentou em padecer na cruz e com a morte, e quis também fazer-se pobre e peregrino, ir errante e nu, quis ser jogado no cárcere e sofrer as debilidades, para conseguir a tua conversão». Se Cristo não deixou passar nenhuma oportunidade para que possamos viver o amor com os demais, tampouco deixemos passar a ocasião de aceitar ao que é diferente a nós no modo de viver sua vocação a formar parte da Igreja, porque «Quem não é contra nós, está a nosso favor» (Mc 9,40).

III. Atualização

• Temos uma atitude mesquinha dos discípulos de Jesus, proibindo alguém de fazer o

bem, ao expulsar demônios.

• O Mestre responde com uma frase que é expressão de tolerância cristã: “quem não está

contra nós, está a nosso favor”. Quem faz o bem em nome de Jesus, mesmo não fazendo parte do seu grupo, é discípulo dele. Todo o bem feito em favor de alguém é bem-vindo, venha de onde vier e de quem quer que seja.

• O nome de Jesus não é monopólio de uma comunidade ou grupo. De fato, vemos muitas pessoas fazendo o bem, independentemente de pertencerem ou não a uma instituição religiosa.


• Sabemos que Deus age livremente sobre toda a realidade humana, também através de pessoas que não são cristãs. Deveríamos nos alegrar ao ver tudo o que acontece de bom em favor de alguém. Quem faz o bem é parceiro no projeto de Jesus.




terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Homília da terça-feira22 de Fevereiro: A Cátedra de São Pedro, apóstolo.

 I. Introdução

Hoje, a Liturgia latina celebra a festa da Cátedra de São Pedro. Trata-se de uma tradição muito antiga, testemunhada em Roma desde o século IV, com a qual se dá graças a Deus pela missão confiada ao Apóstolo Pedro e aos seus sucessores.

II. Comentário

Hoje, celebramos a Cátedra de São Pedro. Pretende-se destacar com esta celebração, o fato de que – como um dom de Jesus Cristo para nós — o edifício da Igreja se apoia sobre o Príncipe dos Apóstolos, que goza de uma ajuda divina peculiar para realizar essa missão. Assim o manifestou o Senhor em Cesareia de Filipo: «Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja» (Mt 16,18). Efetivamente, «só Pedro foi escolhido para ser posto à frente da vocação de todas as nações, de todos os Apóstolos e de todos os padres da Igreja» (São Leão Magno).

A Igreja beneficiou, desde o seu início, do ministério petrino, de modo que São Pedro e os seus sucessores presidiram a caridade, foram fonte de unidade e tiveram, muito especialmente, a missão de confirmar na verdade os seus irmãos.

Jesus, uma vez ressuscitado, confirmou esta missão a Simão Pedro. Ele, que já tinha chorado, profundamente arrependido, a sua tríplice negação de Jesus, faz agora uma tripla manifestação de amor: «Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo» (Jo 21,17). Então o Apóstolo viu com alívio como Jesus não o desdisse e o confirmou, por três vezes, no ministério que antes lhe tinha anunciado: «Cuida das minhas ovelhas» (Jo 21,16.17).

Esta potestade não resulta de mérito próprio, como tão pouco o fora a declaração de fé de Simão em Cesareia: «Não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu» (Mt 16,17). Sim, trata-se de uma autoridade com potestade suprema, recebida para servir. É por isso que o Romano Pontífice, quando assina os seus escritos, o faz com o seguinte título honorífico: Servus servorum Dei.

Trata-se, portanto, de um poder para servir a causa da unidade, fundamentada sobre a verdade. Façamos o propósito de rezar pelo Sucessor de Pedro, de prestar delicada atenção às suas palavras e de agradecer a Deus esta grande dádiva.

III. Atualização

• Qual foi a "cátedra" de São Pedro? Escolhido por Cristo como "rocha" sobre a qual

edificar a Igreja, ele começou o seu ministério em Jerusalém, depois da Ascensão do

Senhor e do Pentecostes.

• A primeira "sede" da Igreja foi o Cenáculo. Em seguida, a sé de Pedro tornou-se

Antioquia, naquela época terceira metrópole do império romano, depois de Roma e de Alexandria do Egito. Daquela cidade, evangelizada por Barnabé e Paulo, a Providência conduziu Pedro até Roma.

• A sede de Roma torna-se assim reconhecida como a do sucessor de Pedro, e a "cátedra" do seu Bispo representou a do Apóstolo encarregado por Cristo, de apascentar todo o seu rebanho: um sinal privilegiado do amor de Deus, Pastor bom e eterno2



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Homília da Segunda-feira da 7° Semana Comum

I. Introdução

Confiei, Senhor, na vossa misericórdia; meu coração exulta porque me salvais. Cantarei ao Senhor pelo bem que me fez (Sl 12,6).

Em meio a uma geração incrédula e desorientada, deixemo-nos conduzir pela sabedoria que vem do alto, a qual é “pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento”.

II. Comentário

Descendo da montanha, Jesus se defronta com uma multidão em volta dos discípulos incapazes de curar um “espírito mudo” que se apossou de um menino.

O Mestre se queixa de seus discípulos por falta da fé, que deve ser alimentada pela oração. A oração fortalece a fé, e a fé “tudo pode”.

A cena dos discípulos incapazes de realizar o “milagre” para o rapaz possuído pelo “espírito mudo” é a imagem de nossa impotência diante das doenças, das injustiças e da miséria que assolam a nossa sociedade.

O “espírito mudo” que se apodera das pessoas de todos os tempos pode ser o apego ao pecado, ao egoísmo, aos ídolos do poder, da violência, da intolerância, da discriminação.

O “espírito mudo” é tão extremo que não se abre ao diálogo, está fechado em si mesmo e nas suas ideias fixas. A oração e a fé podem libertar desse fechamento extremo que não admite alternativas.

III.

Atualização

«Nós tínhamos ficado indignos de orar, mas Deus, pela sua bondade, nos permite falar com Ele. Nossa oração é o incenso que mais lhe agrada» (São João Ma Vianney)

«A palavra de Deus é palavra de amor, palavra purificadora: expulsa os espíritos de temor, soledade e oposição a Deus; assim purifica nossa alma e nos dá paz interior» (Bento XVI)

«(...) Para viver, crescer e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos de pedir ao Senhor que no-la aumente (37); ela deve ‘agir pela caridade’ (Gal 5,6), ser sustentada pela esperança (39) e permanecer enraizada na fé da Igreja» (Catecismo da Igreja Católica, no 162)



domingo, 20 de fevereiro de 2022

Homília do VII Domingo do Tempo Comum

I. Introdução

Hoje descobrimos no “mandato” de Jesus Cristo que as “relações” com o próximo são muito importantes —essenciais! Para o homem. As Pessoas Trinitárias —Pai, Filho e Espírito Santo— são Relações de doação (em grau infinito): Paternidade, Filiação e Amor. O homem — criado à imagem de Deus Trindade— também é um “ser relacional”, é um “ser para”, realiza sua vida verdadeira só como “relação”.

Eu só não sou nada; só no “tu” e “para o ti” sou “eu-mesmo”. Verdadeiro homem significa: estar na relação do amor, do “por” e do “para” o próximo. E pecado significa incomodar, interromper ou destruir a relação. Por isso, este fenômeno chamado “pecado” afeta também ao próximo e a tudo. O pecado é sempre uma ofensa que perturba o mundo (não é um fenômeno que só e unicamente afete a mim).

II. Comentário

Hoje, no Evangelho, o Senhor pede-nos duas vezes que amemos os nossos inimigos. E oferece, seguidamente, três situações concretas e positivas deste mandamento: fazei o bem aos que vos odeiam, benzei aos que vos maldizem e orai por aqueles que vos caluniam.

É um mandamento que parece difícil de cumprir: como podemos amar os que não nos amam? Mais ainda, como podemos amar aqueles que temos a certeza de que nos querem mal? Chegar a amar desta maneira é um dom de Deus, mas é preciso que estejamos abertos a Ele.

Bem pensado, amar os inimigos é humanamente falando, a coisa mais sábia que podemos fazer: o inimigo amado sente-se desarmado; amá-lo pode ser condição da possibilidade de deixar de ser inimigo. Jesus continua nesta mesma linha, dizendo: «Se alguém te bater numa face, oferece também a outra» (Lc, 6,29).

Poderia parecer um excesso de mansidão. Mas, que fez Jesus quando foi esbofeteado na sua Paixão? Certamente não contra-atacou, mas respondeu com tal firmeza, cheia de caridade, que deve ter surpreendido aquele servo irado: «Se falei mal, mostra em que falei mal; e se falei certo, por que me bates?» (Jo 18,22-23).

Todas as religiões têm uma máxima de ouro: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti». Jesus é o único que a formula de modo positivo: «Assim como desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo» (Lc 6,31). Esta regra de ouro constitui o fundamento de toda a moral.

São João Crisóstomo, comentando este versículo, ensina-nos: «Ainda há mais, porque Jesus não disse somente: desejai todo o bem para os outros, mas fazei o bem aos outros»; logo, a máxima de ouro proposta por Jesus não pode reduzir-se a um mero desejo, mas tem que se traduzir em obras.

III. Atualização

• «Cristo, ao revelar o amor-misericórdia de Deus, exigia também aos homens que se

deixassem guiar na sua vida pelo amor e pela misericórdia» (São João Paulo II).


• «O inimigo é alguém a quem devo amar. No coração de Deus não há0 inimigos, Deus tem filhos. Nós levantamos muros, construímos barreiras e classificamos às pessoas. Deus tem filhos» (Francisco).

• «No sermão da montanha, o Senhor lembra o preceito: ‘Não matarás’ (Mt 5,21), e acrescenta-lhe a proibição da ira, do ódio e da vingança. Mais ainda: Cristo exige do seu discípulo que ofereça a outra face (36), que ame os seus inimigos (37) (...)» (Catecismo da Igreja Católica, no 2.262.




sábado, 19 de fevereiro de 2022

Homília do Sábado da 6° Semana Comum

I. Introdução

Hoje, o Evangelho da transfiguração apresenta-nos um enigma já decifrado. O texto evangélico de São Marcos está pleno de segredos messiânicos, de momentos pontuais nos quais Jesus proíbe que se dê a conhecer o que fizera.

Hoje encontramo-nos perante um “botão de arranque”. Assim, Jesus «ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos» (Mc 9,9).

II. Comentário

Hoje vemo-lo claro neste Evangelho: a transfiguração é um momento, uma captação de glória para decifrar aos discípulos o sentido daquele momento íntimo.

Jesus tinha anunciado aos seus discípulos a iminência da sua paixão, mas ao vê-los tão perturbados por tão trágico fim, explica-lhes com feitos e palavras como será o final dos seus dias: umas jornadas de paixão, de morte, mas que concluirão com a ressurreição.

Eis aqui o enigma decifrado. Santo Tomás de Aquino diz: «Para que uma pessoa caminhe retamente por um caminho é necessário que conheça com anterioridade, de alguma forma, o lugar ao qual se dirige».

Também a nossa vida de cristãos tem um fim revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo: gozar eternamente de Deus. Mas esta meta não está isenta de momentos de sacrifício e de cruz.

Com tudo, devemos recordar a mensagem viva do Evangelho de hoje: neste beco aparentemente sem saída, que é frequentemente a vida, pela nossa fidelidade a Deus, vivendo imersos no espírito das Bem-aventuranças, surgirá uma brecha no final trágico que nos permitirá gozar eternamente de Deus.

III. Atualização

• Em que consiste este segredo messiânico? Trata-se de levantar um pouco o véu daquilo

que se esconde debaixo, mas que apenas será revelado totalmente no fim dos dias de

Jesus, à luz do Mistério Pascal.

• Hoje, depois da confissão de Pedro, o evangelista Marcos (e também Mateus e Lucas)

relata a cena da Transfiguração. Isso não é casual!

• No conjunto do acontecimento, enquanto o Pai “acredita” ao Filho, sobressai a conexão

―anteriormente rejeitada por Pedro― entre cruz e gloria: a cruz é a exaltação de Jesus e sua exaltação não ocorre noutro lugar diferente da cruz.



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Homília da Sexta-feira da 6° Semana Comum

 I. Introdução

Hoje o Evangelho nos fala sobre dois temas contemporâneos¬: a nossa cruz de cada dia e o seu fruto, quer dizer, a Vida em maiúscula, sobrenatural e eterna.

II. Comentário

Ficamos de pé para escutar o Santo Evangelho, como símbolo de querermos seguir os seus ensinamentos. Jesus diz que nos neguemos a nos mesmos, clara expressão de não seguir o “gosto dos caprichos” —como menciona o salmo— ou de afastar «as riquezas enganadoras», como diz São Paulo. Tomar a própria cruz é aceitar as pequenas mortificações que cada dia encontramos pelo caminho.

Pode-nos ajudar para isso a frase que Jesus disse no sermão sacerdotal, no Cenáculo: «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda» (Jo 15,1-2).Um lavrador esperançoso, mimando o racimo para que alcance muita qualidade! Sim, queremos seguir ao Senhor! Sim, somos conscientes de que o Pai pode ajudar-nos a dar abundante fruto em nossa vida terrenal e depois gozar na vida eterna.

Santo Inácio guiava a São Francisco Xavier com as palavras do texto de hoje: «De fato, que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?» (Mc 8,36). Assim chegou a ser o patrono das Missões. Com a mesma nuança, lemos o último Cânon do Código de Direito Canônico (n.1752): «Tendo-se diante dos olhos a salvação das almas que, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema». São Agostinho tem a famosa lição: «Animam salvasti tuam predestinasti», que o ditado popular traduziu-a assim: «Quem salva uma alma, garante a sua». O convite é evidente.

Maria, Mãe da Divina Graça, nos dá a mão para avançar neste caminho.

III. Atualização

• «Eu, até ao presente momento, sou um escravo. Mas se alcançar sofrer o martírio,

serei libertado em Jesus Cristo e ressuscitarei livre, n ́Ele» (Santo Inácio de Antioquia)

• «A tradição teológica, espiritual e ascética, desde os primeiros tempos, manteve a necessidade de seguir a Cristo na Sua Paixão, não apenas na imitação das suas virtudes, como também na cooperação na redenção universal» (São João Paulo II)

• «A Cruz é o único sacrifício de Cristo, mediador único entre Deus e os homens (1Tm 2,5). Mas porque, na sua Pessoa divina encarnada. «Ele Se uniu, de certo modo, a cada homem», «a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido» (Concilio Vaticano II). Convida os discípulos a tomarem a sua cruz e a segui-Lo (Mt 16,24) (...)» (Catecismo da Igreja Católica, no 618)




quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Homília da QUINTA-FEIRA da 6° Semana Comum.

 I. Introdução

Sede o rochedo que me abriga, a casa bem defendida que me salva. Sois minha fortaleza e minha rocha; para honra do vosso nome, vós me conduzis e alimentais (Sl 30,3s).

Recusando orientar-se por pensamentos humanos e seguindo o mandamento do amor deixado por Cristo, os cristãos não fazem distinção de pessoas, mas agem movidos somente pelo amor a Deus e ao próximo.

II. Comentário

Até agora o Evangelho de Marcos procurou mostrar, por meio de sinais e milagres, quem é Jesus. Então pergunta aos discípulos para ver até que ponto chegou o conhecimento deles a respeito do Mestre.

Porta-voz do grupo, Pedro responde: tu és o Messias. O quis iludir seus seguidores e lhes mostra qual será seu destino. Jesus é o Filho de Deus, mas também o homem que tem de padecer e ser perseguido.

Pedro reage diante dessa proposta e começa a repreendê-lo. Diante da atitude de Pedro, Jesus o convida a continuar sendo discípulo, ficando atrás do Mestre. Sim, nós também temos muito ainda a aprender do que o Mestre fez e ensinou.

É muito fácil reconhecer e seguir o Jesus dos milagres, mas não é fácil acolher o Jesus da cruz. Nem sempre estamos dispostos a seguir o Jesus que questiona as injustiças e aponta a ferida da miséria e da dor.

III. Atualização

• Hoje contemplamos um marco no caminho de Jesus Cristo: a confissão de Pedro. Jesus

pergunta aos discípulos o que dizem as pessoas Dele e o que eles pensam.

• As opiniões das pessoas constituem aproximações —desde o passado— ao mistério de

Jesus Cristo e têm algo em comum.

• Situam Jesus na categoria dos profetas (Elias, Jeremias, Baptista...). Mas não atingem a

sua natureza divina.




quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Homília da Quarta-feira da 6° Semana Comum

 I. Introdução

Hoje através deste milagre, Jesus fala-nos do processo da fé. A cura do cego em duas etapas mostra que nem sempre é a fé uma iluminação instantânea, senão que frequentemente requere um itinerário que nos aproxima à luz para ver claro.

Também é evidente que o primeiro passo da fé —começar a ver a realidade à luz de Deus— já é motivo de alegria, como diz Santo Agostinho: «uma vez curados os olhos, que podemos ter de mais valor, irmãos? Alegram-se os que vêm esta luz que foi feita, a que vêm desde o céu ou a que procede de uma candeia. E que desgraçados se sentem os que não a podem ver!».

II. Comentário

Ao chegar a Betsaida trazem um cego a Jesus para que lhe imponha as mãos. É significativo que Jesus o leve para fora; não nos está indicando isto que para escutar a palavra de Deus, para descobrir a fé e ver a realidade em Cristo, devemos sair de nós mesmos, de sítios e tempos ruidosos que nos asfixiam e nos deslumbram para receber a autentica iluminação?

Uma vez fora da aldeia, Jesus «cuspiu nos olhos dele, impôs-lhe as mãos e perguntou: Estás vendo alguma coisa?» (Lc 8,23).

Este gesto lembra o Batismo: Jesus já não nos unta com saliva, senão que banha todo o nosso ser com a água da salvação e ao largo da vida, nos interroga sobre o que vemos à luz da fé.

«Impôs de novo as mãos sobre os seus olhos, e ele começou a enxergar perfeitamente» (Lc 8,25); este segundo momento faz lembrar o sacramento da Confirmação, no qual recebemos a plenitude do Espírito Santo para chegarmos à perfeição da fé e poder ver claro. Receber o Batismo, mas esquecer a Confirmação nos leva a ver, sim, mas só a meias.

«Deus propõe os mistérios da fé à nossa alma no meio de escuridão e das trevas. Porém, o ato de fé consiste em subjugar o nosso espírito, que recebeu a agradável luz da verdade» (São Francisco de Sales).

III.

• •

Atualização

«Deixemo-nos curar por Jesus, que pode e quer dar-nos a luz de Deus. Confessemos a nossa cegueira, a nossa miopia e, acima de tudo, o que a Bíblia chama de ‘grande pecado’: o orgulho” (Bento XVI)

«É pela imposição das mãos que Jesus cura os doentes e abençoa as crianças. O mesmo farão os Apóstolos, em seu nome. Ainda mais: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito Santo é dado (...)» (Catecismo da Igreja Católica, no 699




terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Homília da TERÇA-FEIRA do 6° semana do tempo comum

I. Introdução

Hoje, alguns discípulos embarcam com Jesus. Tinham-se esquecido de levar pão para a travessia. Quando Jesus os previne do “fermento” (do perigo) dos fariseus, pensam que o Senhor os está a repreender por se terem esquecido dos mantimentos para a viagem.

O Mestre convida-nos a preocupar-nos menos com os pães (telefone, sapatilhas...) e a dar mais atenção ao “pão da Verdade”, sem nos deixarmos enganar pelas atracções baratas da vida, que embotam o nosso coração.

II. Comentário

Hoje -uma vez mais- vemos a sagacidade do Senhor Jesus. Seu agir é surpreendente, já que se sai do comum da gente, é original. Ele vem de realizar uns milagres e está-se trasladando a outro setor onde a Graça de Deus também deve chegar.

Nesse contexto de milagres, ante um novo grupo de pessoas que o espera, é quando lhes adverte: «Atenção! Cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes» (Mc 8,15), pois eles —os fariseus e os de Herodes— não querem que a Graça de Deus seja conhecida, e mais bem eles propagam no mundo o mau fermento, semeando discórdia.

A fé não depende das obras, pois «uma fé que nós mesmos podemos determinar, não é em absoluto uma fé» (Bento XVI). Pelo contrário, são as obras as que dependem da fé. Ter uma autêntica e verdadeira fé implica uma fé ativa e dinâmica; não uma fé condicionada e que só fica-se no externo, nas aparências, na teoria e não na pratica.

A nossa deve ser uma fé real. Temos que ver com os olhos de Deus e não com os do homem pecador: «Ainda não entendeis, nem compreendeis? Vosso coração continua incapaz de entender?» (Mc 8,17).

O Reino de Deus se estende no mundo como quando se coloca uma medida de fermento na massa, ela cresce sem que se saiba como. Assim deve ser a autêntica fé, que cresce no amor de Deus. Portanto que nada nem ninguém nos distraiam do verdadeiro encontro com o Senhor e de sua mensagem Salvadora.

O Senhor não perde ocasião para ensinar e isso segue fazendo hoje em dia: «Temos que nos liberar da falsa ideia de que a fé já não tem nada que dizer aos Homens de hoje» (Bento XVI).

III.

Atualização

Hoje Jesus Cristo, denunciando o “fermento” (= malícia) de Herodes, desmascara uma das faces da tentação pecaminosa: a aparência de realismo. Ao tomar decisões é quando surge a pergunta: O que é aquilo que tem valor verdadeiro na minha vida? Ai aparece o núcleo de toda tentação: afastar Deus, que, ante tudo aquilo que parece mais urgente na nossa vida, passa a ser algo secundário, ou incluso supérfluo e molesto.

Reconhecer como verdadeiras apenas as realidades políticas e materiais, e deixar a Deus de lado como algo ilusório, esta é a tentação que nos ameaça de muitas maneiras. O real é o que se constata: “poder” e “pão”. Ante isso as coisas de Deus aparecem irreais (um mundo secundário que realmente não se precisa. A questão é Deus: é verdade ou


não que Ele é a realidade mesma? É Ele mesmo o Bom, ou nós mesmos devemos inventar o que é bom?

• A questão de Deus é a interrogante fundamental que me coloca ante a encruzilhada da minha existência.




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Homília da SEGUNDA-FEIRA da 6° Semana Comum - SANTOS CIRILO, MONGE, E METÓDIO, BISPO.

 I. Introdução

Como são belos sobre os montes os passos do que anuncia a paz, trazendo a Boa-nova e proclamando a salvação (Is 52,7).

Cirilo, monge, e Metódio, bispo, são irmãos de sangue que nasceram na Grécia e viveram no século 9o. Realizaram imensa obra missionária junto aos povos eslavos, para os quais traduziram a Bíblia Sagrada e obtiveram do papa permissão para celebrar a missa na língua local. Por causa dessa missão, enfrentaram incontáveis obstáculos. A seu exemplo, busquemos manter a unidade da Igreja.

II. Comentário

O grupo dos fariseus, mais uma vez, procura arrumar encrenca com Jesus, solicitando um milagre vindo do céu.

O Mestre se recusa terminantemente a realizar tal pedido, para satisfazer a curiosidade de quem não quer nada com ele. Para os fariseus de ontem e de hoje, parece que não são suficientes os gestos já realizados por Jesus em favor de tantos necessitados.

Ainda em nossos dias, há pessoas que abandonam o Mestre depois de não ter conseguido o que desejavam. São tentativas de obrigar Deus a ceder às nossas vontades.

A própria pessoa de Jesus é o verdadeiro e autêntico sinal da presença de Deus e da salvação da humanidade.

Os sinais através dos quais Jesus se revela são um chamado à fé e ao compromisso; não são para satisfazer a curiosidade nem os caprichos de quem quer que seja. O Mestre respeita a liberdade de cada um de segui-lo ou não.

III. Atualização

• Hoje, aparecem mais discussões. Jesus não quer discutir; afinal nós é que discutimos

com Deus.

• Os fariseus colocam mais uma vez armadilhas a Jesus: pedem-lhe que faça um milagre.

Contudo, quando veem os milagres do jovem Mestre, dizem que estava possesso do

demónio... Não há quem entenda estes fariseus!

• Que estranhos! É assim que devemos tratar Deus? Quem é Deus: Ele ou nós? Porque,

às vezes, parece que tratamos Deus como um “pequeno mágico”




domingo, 13 de fevereiro de 2022

Homília do VI Domingo do Tempo Comum

I. Introdução

Hoje, Jesus chama muitas vezes “felizes” aos seus discípulos. As “Bem-aventuranças” são palavras de promessa, que servem ao mesmo tempo como orientação moral. Cada “bem- aventurança” descreve, por assim dizer, a situação fática dos discípulos de Cristo: São pobres, estão famintos, choram, são odiados, perseguidos... São “qualificações” práticas, mas, também indicações teológico-morais.

Apesar da situação de ameaça na que Jesus vê os seus, esta se converte em promessa quando a enxerga com a luz que vem do Pai. Para o discípulo, as “Bem-aventuranças” são um paradoxo: Invertem-se os critérios do mundo apenas se enxergam as coisas desde a escala de valores de Deus. As “Bem-aventuranças” são promessas nas que resplandece a nova imagem do mundo e do homem que Jesus inaugura e, nas que “se invertem os valores”.

Quando “enxergo” através de ti, Senhor, então vivo com novos critérios, começo a “tocar” algo do que está por vir (o Céu) e entra a alegria na tribulação.

II. Comentário

Hoje voltamos a viver as bem-aventuranças e as “mal-aventuranças”: «Bem- aventurados sóis vós...», sim agora sofres em meu nome; «Ai de vós...», se agora ris.

A fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho faz com que sejamos rejeitados, escarnecidos nos medos de comunicação, odiados, como Cristo foi odiado e crucificado. Há quem pensa que isso se deve à falta de fé de alguns, mas talvez—bem visto— é devido à falta de razão.

O mundo não quer pensar nem ser livre; vive imerso desejando a riqueza, do consumo, do doutrinamento libertário que se enche de palavras vãs, vazias onde se escurece o valor da pessoa e se burla dos ensinamentos de Cristo e da Igreja, uma vez que —hoje por hoje— é o único pensamento que certamente vai contra a correnteza.

Apesar de tudo, o Senhor Jesus nos infunde coragem: «Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. ( )... Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas» (Lc 6, 22.23).

João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, disse: «A fé move a razão ao sair de seu isolamento e ao apostar, de bom agrado, por aquilo que é belo, bom e verdadeiro». A experiência cristã em seus santos nos mostra a verdade do Evangelho e destas palavras do Santo Padre.

III. Atualização

• Ante um mundo que se satisfaz no vicio e no egoísmo como fonte de felicidade, Jesus

mostra outro caminho: a felicidade do Reino do Deus, que o mundo não pode entender,

e que odeia e rejeita.

• O cristão, entre as tentações que lhe oferece a “vida fácil”, sabe que o caminho é o do

amor que Cristo nos mostrou na cruz, o caminho da fidelidade ao Pai. Sabemos que

entre as dificuldades não podemos desanimar-nos.

• Se procuramos de verdade o Senhor, alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será

grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas (cf. Lc 6,23).




sábado, 12 de fevereiro de 2022

Homília do Sábado da 5° Semana do Tempo Comum

 I. Introdução

Quantas vezes nos voltamos para o outro lado, para não ver os irmãos necessitados! E este olhar para o outro lado é um modo educado, com luvas brancas, de dizer: «Arranjai-vos sozinhos!». E isto não é de Jesus: isto é egoísmo.

Se Ele tivesse despedido as multidões, muitas pessoas ficariam sem comer. Ao contrário, aqueles poucos pães e peixes, compartilhados e abençoados por Deus, foram suficientes para todos.

Mas atenção! Não se trata de uma magia, mas de um «sinal»: um sinal que nos convida a ter fé em Deus, Pai providente, que não nos faz faltar o «pão nosso de cada dia», se nós soubermos compartilhá-lo como irmãos.

II. Comentário

Jesus teve compaixão da multidão que se aglomerou em sua volta e não quis despedi-la com fome. O Mestre promove uma ação conjunta, discípulos e multidão, para encontrar uma saída.

A solução foi recolher o que cada um trazia e repartir. O alimento partilhado é uma bênção que saciou a fome daquela gente e ainda sobrou. Não basta sentir compaixão pelos irmãos e irmãs mais pobres; é preciso manifestar-lhes, com gestos concretos, solidariedade. Quando a pessoa sente compaixão pelo sofrimento do outro, ela não fica indiferente. O grande problema hoje é a indiferença diante de tanta dor que vemos na nossa sociedade.

É fundamental superar o “círculo da indiferença” diante de tudo que vemos. Com seu gesto, o Mestre nos ensina que é necessário tomar consciência das necessidades humanas. Ao partilhar o pão e a amizade, é possível dar graças a Deus.

III. Atualização

• «”Partir o pão” para o Senhor significa a manifestação do mistério da Eucaristia. A sua

ação de graças significa a alegria que a salvação do género humano lhe dá. A entrega do pão aos seus discípulos para que o repartam significa que transmitiu aos Apóstolos a tarefa de distribuírem o sustento da vida, á Sua Igreja» (São Beda, o Venerável)

• «Este milagre não pretende satisfazer a fome apenas de um dia, mas é um sinal do que Cristo está disposto a fazer para a salvação de toda a humanidade, oferecendo a Sua carne e Seu sangue» (Francisco)

• «Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família (...). É por este gesto que os discípulos O reconhecerão depois da sua ressurreição e é com esta expressão que os primeiros cristãos designarão as suas assembleias eucarísticas (...)» (Catecismo da Igreja Católica no 1.329)



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Homília da Sexta-feira da 5° Semana Comum

I. Introdução

Jesus “fazia bem todas as coisas”. Isto revela o empenho que colocava no exercício de sua missão.

Ele não fazia as coisas pela metade, não concedia benefícios parcelados e condicionados, nem se contentava com ações malfeitas.

Pelo contrário, seus gestos poderosos traziam a marca da plenitude. II. Comentário

No caso do surdo-mudo, a plenitude do gesto de Jesus deve ser entendida para além da cura física. O fato de abrir-lhe os ouvidos, possibilitando-lhe ouvir perfeitamente, e da libertação da mudez, de modo a poder falar sem dificuldade, já é, por si, formidável. Contudo, isto ainda seria insuficiente para que a ação de Jesus fosse declarada bem-feita.

Era necessário possibilitar ao surdo-mudo um “abrir-se” ainda mais radical: desfazer- lhe as outras prisões, e num nível tal de profundidade, de forma a colocá-lo em plena sintonia com Deus e com os seus semelhantes.

Sem esta passagem da cura física à cura espiritual, a primeira não teria muita importância. Vale a pena alguém ser curado da surdez e da mudez para levar uma vida egoísta, sem solidarizar-se com os necessitados? Tem sentido ser privilegiado com um gesto de misericórdia de Jesus, e recusar-se a ser misericordioso com o próximo?

Só uma cura radical possibilitaria àquele homem ser misericordioso com os demais. E que interessava a Jesus.

Atualização

Aquele homem não conseguia falar porque não podia ouvir. Com efeito, Jesus para curar a causa da sua doença, coloca primeiro os dedos nos ouvidos, depois na boca, mas primeiro nos ouvidos. Todos nós temos ouvidos, mas muitas vezes não conseguimos ouvir. Porquê? Irmãos e irmãs, existe de facto uma surdez interior, e hoje podemos pedir a Jesus para lhe tocar e curar.

E essa surdez interior é pior do que a física, pois é a surdez do coração. Na nossa pressa, com mil coisas para dizer e fazer, não encontramos tempo para parar e ouvir aqueles que falam conosco.

Corremos o risco de nos tornarmos impermeáveis a tudo e a não dar lugar àqueles que precisam de ser ouvidos: penso nas crianças, nos jovens, nos idosos, muitos que não precisam tanto de palavras e sermões, mas de ser ouvidos.

Perguntemo-nos: como vai a minha escuta? Será que me sensibilizo com a vida das pessoas, que sei como ter tempo para ouvir os que me rodeiam? Isto é para todos nós.

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Homília da Sexta-feira da 5° Semana Comum

I. Introdução

Jesus “fazia bem todas as coisas”. Isto revela o empenho que colocava no exercício de sua missão.

Ele não fazia as coisas pela metade, não concedia benefícios parcelados e condicionados, nem se contentava com ações malfeitas.

Pelo contrário, seus gestos poderosos traziam a marca da plenitude. II. Comentário

No caso do surdo-mudo, a plenitude do gesto de Jesus deve ser entendida para além da cura física. O fato de abrir-lhe os ouvidos, possibilitando-lhe ouvir perfeitamente, e da libertação da mudez, de modo a poder falar sem dificuldade, já é, por si, formidável. Contudo, isto ainda seria insuficiente para que a ação de Jesus fosse declarada bem-feita.

Era necessário possibilitar ao surdo-mudo um “abrir-se” ainda mais radical: desfazer- lhe as outras prisões, e num nível tal de profundidade, de forma a colocá-lo em plena sintonia com Deus e com os seus semelhantes.

Sem esta passagem da cura física à cura espiritual, a primeira não teria muita importância. Vale a pena alguém ser curado da surdez e da mudez para levar uma vida egoísta, sem solidarizar-se com os necessitados? Tem sentido ser privilegiado com um gesto de misericórdia de Jesus, e recusar-se a ser misericordioso com o próximo?




quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Homília da QUINTA-FEIRA da Festa SANTA ESCOLÁSTICA VIRGEM

 I. Introdução

(branco, pref. Comum ou das virgens, – ofício da memória)

Exultemos de alegria, pois o Senhor do universo amou esta virgem santa e gloriosa.

Escolástica nasceu no ano 480, na Itália, e lá faleceu em 547. Irmã gêmea de São Bento e mulher de profunda intimidade com Deus, organizou um grupo de moças, propondo-lhes vida comunitária e dedicação prioritária à oração e à contemplação. A seu exemplo, vivamos em atitude de constante comunhão com o Senhor, a qual nos leve a gerar fecundas obras de caridade.

II. Comentário

Hoje nos mostra a fé de uma mulher que não pertencia ao povo escolhido, mas que tinha a confiança em que Jesus podia curar a sua filha. Aquela mãe «A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio» (Mc 7,26). A dor e o amor a levam a pedir com insistência, sem levar em consideração nem desprezos, nem atrasos, nem indignação. E consegue o que pede, pois «Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já tinha saído dela» (Mc 7,30).

São Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem pois são «aut mali, aut male, aut mala». Ou são maus e a primeira coisa que teriam que pedir seria ser bons; ou pedem erroneamente, sem insistência, em vez de pedir com paciência, com humildade, com fé e por amor; ou pedem coisas ruins que se recebessem fariam dano à alma ou ao corpo ou aos outros. Devemos nos esforçar, pois, por pedir bem. A mulher siro-fenícia é boa mãe, pede algo bom («que expulsasse de sua filha o demônio») e pede bem («veio e jogou-se aos seus a pés»).

O Senhor nos faz usar perseverantemente a oração de petição. Certamente, existem outros tipos de pregaria —a adoração, a expiação, a oração de agradecimento—, mas Jesus insiste em que nós frequentemos muito a oração de petição.

Por que? Muitos poderiam ser os motivos: porque necessitamos da ajuda de Deus para alcançar nosso fim; porque expressa esperança e amor; porque é um clamor de fé. Mas existe um que talvez seja pouco considerando: Deus quer que as coisas sejam um pouco como nós queremos. Deste modo, nossa petição —que é um ato livre— unida à liberdade onipotente de Deus, faz com que o mundo seja como Deus quer e um pouco como nós queremos. É maravilhoso o poder da oração!

III. Atualização

• Mesmo que queira, Jesus não consegue ficar despercebido. Uma mulher pagã,

preocupada com sua filha possuída por um espírito impuro, atira-se aos pés do Mestre,

suplicando pela filha.

• Jesus tenta resistir, mas, diante da insistência da mulher, cede. Jesus entra “numa casa”

em território não israelita. A fala do Mestre é questão de precedência e não de exclusão,

isto é, ele veio para os judeus, antes de tudo, sem excluir os outros povos.

• A reação da mulher mostra bem isso, os cachorrinhos (pagãos) também têm necessidade do básico para a vida (as migalhas). A atitude do Mestre parece ser um teste para constatar a fé da mulher. Provavelmente o texto revela a dúvida da

comunidade de Marcos a respeito da admissão ou não dos pagãos ao Reino de Deus.


• A conclusão é clara: sim, também entre os pagãos havia pessoas preparadas para receber os benefícios do Reino.




quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Homília da Quarta-feira da 5° Semana Comum

I. Introdução

Hoje, Jesus diz-nos onde nascem os males do mundo: nos nossos corações. Os discípulos não entendem e perguntam-Lhe...

Hoje, também não entendemos: sempre que acontece algum mal a culpa é do outro (quase nunca é minha!). E, se não é do “outro”, então a culpa é do “sistema”, do “clima”, “deste século”..., ou seja, de algo genérico e impessoal.

II. Comentário

Hoje, aparece — de forma controversa — a questão fundamental do “coração”: é aí — e não fora — onde se “tece” a trama da história humana. Em Marcos vemos a mudança radical que Jesus deu ao conceito de pureza perante Deus: não são as práticas rituais que purificam.

A pureza e a impureza encontram-se no coração do homem e dependem das condições do coração. E mais do que de um “rearmamento” (esforço) ético, o ponto decisivo é o encontro com Deus em Jesus Cristo: É Ele que nos purifica.

A palavra “coração” refere-se à inter relação interna das capacidades perceptivas do homem, em que também entra em jogo a correta união de corpo e alma, como corresponde à “totalidade” do homem.

Sem afastar a razão nem a vontade, o homem tem de aceitar de Deus o seu próprio “ser corpo” e “ser espírito”, vivendo a corporeidade da sua existência como riqueza para o espírito.

O coração há-de ser puro, profundamente aberto e livre para ver Deus.

III.

Atualização

«Não nos deixemos seduzir por nenhuma prosperidade lisonjeira, porque é um viajante teimoso quem pára no caminho para contemplar as paisagens agradáveis e se esquece para onde vai» (São Gregório Magno)

«É no coração humano que se desenvolve o enredo mais íntimo e, em certo sentido, o mais essencial da história» (São João Paulo II)

«O coração é a morada onde estou, onde habito (...). É a sede da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do encontro, já que, à imagem de Deus, vivemos em relação [com Éle]: é o lugar da Aliança» (Catecismo da Igreja Católica, no 2.563)

Homília da Quarta-feira da 5° Semana Comum

I. Introdução

Hoje, Jesus diz-nos onde nascem os males do mundo: nos nossos corações. Os discípulos não entendem e perguntam-Lhe...

Hoje, também não entendemos: sempre que acontece algum mal a culpa é do outro (quase nunca é minha!). E, se não é do “outro”, então a culpa é do “sistema”, do “clima”, “deste século”..., ou seja, de algo genérico e impessoal.

II. Comentário

Hoje, aparece — de forma controversa — a questão fundamental do “coração”: é aí — e não fora — onde se “tece” a trama da história humana. Em Marcos vemos a mudança radical que Jesus deu ao conceito de pureza perante Deus: não são as práticas rituais que purificam.

A pureza e a impureza encontram-se no coração do homem e dependem das condições do coração. E mais do que de um “rearmamento” (esforço) ético, o ponto decisivo é o encontro com Deus em Jesus Cristo: É Ele que nos purifica.

A palavra “coração” refere-se à inter relação interna das capacidades perceptivas do homem, em que também entra em jogo a correta união de corpo e alma, como corresponde à “totalidade” do homem.

Sem afastar a razão nem a vontade, o homem tem de aceitar de Deus o seu próprio “ser corpo” e “ser espírito”, vivendo a corporeidade da sua existência como riqueza para o espírito.

O coração há-de ser puro, profundamente aberto e livre para ver Deus.




terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Homília da TERÇA-FEIRA 5a SEMANA COMUM

I. Introdução

Entrai, inclinai-vos e prostrai-vos: adoremos o Senhor que nos criou, pois ele é o nosso Deus (Sl 94,6s).

O Deus que “os mais altos céus não podem conter” é, ao mesmo tempo, o Deus próximo e presente na vida do povo, ao qual socorre e perdoa. Confiemos inteiramente no Senhor, cientes de que ele é a nossa proteção.

II. Comentário

Hoje contemplamos como algumas tradições tardias dos mestres da Lei haviam manipulado o sentido puro do quarto mandamento da Lei de Deus. Aqueles escribas ensinavam que os filhos que ofereciam dinheiro e bens para o Templo faziam o melhor.

Segundo este ensinamento, sucedia que os pais já não podiam pedir nem dispor destes bens. Os filhos formados nesta consciência errônea achavam que tinham cumprido assim o quarto mandamento, inclusive ter cumprido da melhor maneira. Mas, de fato, se tratava de um engano.

E Jesus acrescentou: «Vocês são bastante espertos para deixar de lado o mandamento de Deus a fim de guardar as tradições de vocês» (Mc 7,9): Jesus Cristo é o intérprete autêntico da Lei; por isso explica o justo sentido do quarto mandamento, desfazendo o lamentável erro do fanatismo judio.

«Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honre seu pai e sua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’» (Mc 7,10): o quarto mandamento lembra aos filhos as responsabilidades que têm com os pais. Tanto como possam, devem prestar-lhes ajuda material e moral durante os anos da velhice e durante as épocas de enfermidade, solidão ou angustia. Jesus lembra este dever de gratidão.

O respeito aos pais (piedade filial) está feito da gratidão que lhes devemos pelo dom da vida e pelos trabalhos que realizaram com esforço em seus filhos, para que estes pudessem crescer em idade, sabedoria e graça. «Honre a seu pai de todo coração, e não esqueça as dores de sua mãe. Lembre-se de que por eles o geraram. O que você lhes dará em troca por tudo o que eles deram a você?» (Sir 7,27-28).

III.

• •

Atualização

O Senhor quer que o pai seja honrado pelos filhos, e confirma a autoridade da mãe sobre os filhos. Quem honra o próprio pai alcança o perdão dos pecados, e quem respeita sua mãe é como quem ajunta um tesouro.

Quem honra seu pai será respeitado pelos seus próprios filhos, e quando rezar será atendido. Quem honra o seu pai terá vida longa, e quem obedece ao Senhor dará alegria à sua mãe.(cf. Sir 3,2-6). Todos estes e outros conselhos são uma luz clara para nossa vida em relação aos nossos pais.

Peçamos ao Senhor a graça para que não nos falte nunca o verdadeiro amor que devemos aos pais e saibamos, com o exemplo, transmitir ao próximo esta doce “obrigação”.




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Homília da segunda-feira do 5° Domingo do Tempo Comum

 I. Introdução

Hoje, no Evangelho do dia, vemos o magnífico “poder do contato” com a pessoa de Nosso Senhor: «Traziam os doentes para as praças e suplicavam-lhe para que pudessem ao menos tocar a franja de seu manto. E todos os que tocavam ficavam curados».(Mc 6,56).

O menor contato físico pode obrar milagres para aqueles que se aproximam a Cristo com fé. Seu poder de curar desborda desde seu coração amoroso e estende inclusive a suas vestes. Ambos, sua capacidade e seu desejo pleno de curar, são abundantes de fácil acesso.

II. Comentário

Esta passagem pode nos ajudar a meditar como estamos recebendo ao Nosso Senhor na Sagrada Comunhão. Comungamos com fé de que este contato com Cristo pode obrar milagres em nossas vidas? Mais que um simples tocar «a franja de seu manto», nós recebemos realmente o Corpo de Cristo em nossos corpos. Mais que uma simples cura de nossas doenças físicas, a Comunhão cura nossas almas e lhes garanta a participação na própria vida de Deus.

São Inácio de Antioquia, assim, considerava à Eucaristia como a «medicina da imortalidade e o antídoto para prevenir-nos da morte, de modo que produz o que eternamente nós devemos viver em Jesus Cristo».

O aproveitamento desta «medicina da imortalidade» consiste em ser curados de todos aqueles que nos separa de Deus e dos outros. Ser curados por Cristo na Eucaristia, por tanto, implica superar nosso ensimesmamento. Tal como ensina Bento XVI, «Nutrir-se de Cristo é o caminho para não permanecer alheios ou indiferentes diante da sorte dos irmãos (...).

Uma espiritualidade eucarística, então, é um autentico antídoto diante o individualismo e o egoísmo que com frequência caracterizam a vida cotidiana, levam ao redescobrimento da gratuidade, da centralidade das relações, a partir da família, com particular atenção em aliviar as feridas de aquelas desintegradas».

Igual que aqueles que foram curados de suas doenças tocando seus vestidos, nós também podemos ser curados de nosso egoísmo e de nosso isolamento dos outros mediante a recepção de Nosso Senhor com fé.

III. Atualização

• «Cristo é tudo para nós. Se você é oprimido pela injustiça, Ele é justiça; se você precisar

de ajuda, Ele é a força; se você tem medo da morte, Ele é vida; se você quer o céu, Ele é o caminho; se você está nas trevas, Ele é a luz» (Santo Ambrósio de Milão)

• «Deus, depois de ter acabado a criação, não se “retirou”: ainda pode agir. Ele ainda é o Criador e, por isso, sempre tem a possibilidade de “intervir”. Deus ainda é Deus!» (Bento XVI)

• «Cristo convida os seus discípulos a continuarem com ele, cada um com sua cruz. Seguindo-o, adquirem uma nova visão sobre a doença e sobre os enfermos. Jesus os


associa com sua vida pobre e humilde. Ele os faz participar do seu ministério de compaixão e cura (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.506)




sábado, 5 de fevereiro de 2022

HOMÍLIA DA MEMÓRIA DE SANTA ÁGUEDA VIRGEM

I. Introdução

Se a tua vida e a tua sabedoria são apenas ação, sem nada reservares à reflexão e à meditação, queres que te elogie? Não, nisso não posso elogiar-te.

E julgo que ninguém te elogiará, pelo menos se tiver em conta estas palavras de Salomão: «Quem limitar os seus atos, terá a sabedoria» (Ecli 38,25). Pois a ação tem de ser precedida pela reflexão.

II. Comentário

Aliás, se queres dar-te por inteiro a todos, a exemplo daquele que Se fez tudo para todos, elogiarei a tua humanidade, mas só se ela for plena e total; e como poderá sê-lo se dela te excluis? Tu és homem. Por isso, para que a tua humanidade seja plena e total, deves incluir- te na abertura do coração que reservas a todos.

Se assim não for, de que te servirá, como diz o Senhor, ganhar todos os homens se tu próprio te perderes? Mas, sendo tu o bem de todos, sê tu próprio um daqueles que o possuem, pois de outra maneira serias o único a ser privado desse favor.

Até quando se afastará o teu espírito sem regressar a ti? Até quando deixarás de te receber a ti mesmo? Dás-te aos sábios e aos ignorantes, e recusas-te a ti próprio? [...]

Sim, que as tuas águas se expandam, que os homens e os rebanhos acalmem a sua sede; dá de beber até aos camelos do servo de Abraão. Mas bebe, tu também, da água que jorra do teu poço. [...]

Recorda-te, pois, não digo sempre, nem digo muitas vezes, mas ao menos de vez em quando, de voltar a ti próprio. Entre muitos outros, ou mesmo depois de muitos outros, recorre aos teus próprios serviços.

III. Atualização

• Na volta de uma missão, os apóstolos se reúnem com Jesus para fazer uma avaliação da

atividade. O Mestre os convida ao repouso, o missionário também tem direito ao

descanso. Mas não conseguem ficar muito tempo afastados, pois a multidão corre atrás.

• E Jesus se compadece, ao perceber que são como ovelhas sem pastor. As pessoas buscam em Jesus alimentar a esperança e o sentido da vida. Elas anseiam por uma sociedade fundamentada em valores de justiça, de fraternidade, de respeito e de

acolhida; enfim, tudo o que Jesus pratica e ensina.

• Nós nos tornamos cada vez mais humanos à medida que vivemos esses valores que o

Mestre nos deixou. Tanto para os evangelizadores como para qualquer pessoa, Jesus nos ensina que são necessários o repouso, o lazer, a convivência familiar, a necessidade de repor as energias. Isso também nos humaniza.



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Homília da Sexta-feira da 4° Semana do Tempo Comum

I. Introdução

Hoje, nesta passagem de Marcos, falasse-nos da fama de Jesus —conhecido pelos seus milagres e ensinamentos—. Era tal esta fama que algumas pessoas pensavam que se tratava do parente e precursor de Jesus, João Batista, que teria ressuscitado de entre os mortos.

E assim o queria imaginar Herodes, o que o tinha mandado matar. Mas este Jesus era muito mais que os outros homens de Deus: mais que aquele João; mais que qualquer dos profetas que falavam em nome do Altíssimo: Ele era o Filho de Deus feito Homem, perfeito Deus e perfeito Homem. Este Jesus —presente entre nós—, como homem, pode compreender-nos e, como Deus, pode conceder-nos tudo o que necessitamos.

II. Comentário

João, o precursor, que tinha sido enviado por Deus antes que Jesus, com o seu martírio, precedeu-o também na Sua paixão e morte. Foi também uma morte injustamente atribuída a um homem santo, por parte do tetrarca Herodes, seguramente contrariado, pois ele apreciava- o e escutava-o com respeito. Mas, por fim, João era claro e firme com o rei quando lhe critica a sua conduta merecedora de censura, pois não lhe era lícito tomar como esposa a Herodias, a mulher do seu irmão.

Herodes tinha cedido ao pedido que lhe tinha feito a filha de Herodias, instigada pela sua mãe, quando, num banquete —depois da dança que tinha agradado ao rei— perante os convidados, jurou à bailarina dar-lhe tudo o que lhe pedisse. «Que lhe peço?», pergunta à sua mãe que lhe responde: «A cabeça de João Batista» (Mc 6,24). E o reizinho manda executar a Batista. Era um juramento que de nenhuma forma o obrigava, pois era coisa má, contra a justiça e contra a consciência.

Uma vez mais, a experiência ensina que uma virtude deve estar unida a todas as outras, e todas hão de crescer de maneira orgânica, como os dedos de uma mão. E também que quando se incorre num vício, prosseguem-se os outros.

III. Atualização

• «São João morreu por Cristo, quem é a Verdade. Justamente, por amor a verdade, não

reduz seu compromisso e não tem temor a dirigir palavras fortes para aqueles que

tinham perdido o caminho de Deus» (São Venerável Beda)

• «João não tem medo dos juízos humanos, as persecuções, as calúnias nem da morte,

pois, tem uma consciência clara de sua missão. A vida do Bautista se resume na

necessidade de obedecer a Deus antes que aos homens» (Bento XVI)

• «Na linha dos profetas e de João Batista, Jesus anunciou, em sua pregação, o juízo do

último dia. Serão então revelados a conduta de cada um e o segredo dos corações. Será também condenada a incredulidade culpada que fez pouco da graça oferecida por Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n° 678)






quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Homília da QUINTA-FEIRA da 4° semana Comum

I. Introdução

Jesus envia os apóstolos, numa espécie de experiência, para anunciar o Evangelho, com autoridade para converter e libertar dos demônios que dominam as pessoas.

II. Comentário

A missão dos Doze é continuar a obra libertadora do Mestre. A bagagem é simples e modesta, apenas o necessário para se vestir e proteger os pés, e carregam o símbolo da missão, o bastão. Com isso, o Mestre ensina que o evangelizador deve estar livre e desapegado de tudo o que possa ser obstáculo à credibilidade da missão.

A riqueza gera segurança e pode nutrir o espírito de dominação e discriminação, principalmente em ambientes simples e pobres. Com isso, os apóstolos, pregando na pobreza, deviam confiar-se na providência divina.

Ela não deixaria que lhes faltasse o necessário para a sobrevivência. Jesus não convida todos a segui-lo da mesma forma, porém espera que cada um seja fiel ao seu projeto.

III. Atualização

• «Que o mundo, pela predicação da Igreja, ouvindo, possa acreditar, acreditando, possa

esperar e esperando, possa amar» (Santo Agostinho)

• «Devemos reavivar em nós o sentimento de urgência que Paulo tinha quando exclamava: `Aí de mim se não predicasse o Evangelho! ́(1Cor 9,16). Esta paixão suscitará na Igreja uma nova ação missionária, que não poderá ser delegada nuns quantos “especialistas” mas, que acabará por implicar a responsabilidade de todos os membros do Povo de Deus» (São João Paulo II)

• «O dever dos cristãos, de tomar parte na vida da Igreja, leva-os a agir como testemunhas do Evangelho e das obrigações que dele dimanam. Este testemunho é transmissão da fé por palavras e obras» (Catecismo da Igreja Católica, no 2.472)



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

HOMILIA da QUARTA-FEIRA da APRESENTAÇÃO DO SENHOR

4 ° semana comum (branco, glória, pref. Próprio – ofício da festa)

I. Introdução

Recebemos, ó Deus, a vossa misericórdia no meio de vosso templo. Vosso louvor se estende, como o vosso nome, até os confins da terra; toda a justiça se encontra em vossas mãos (Sl 47,10s).

De origem oriental, a “Festa das luzes” estendeu-se, no século 4o, ao Ocidente, com o nome de “Encontro”. Caracterizou-se pela solene bênção das velas e procissão, tornando-se conhecida também como a “Candelária”. Do mesmo modo que Jesus, luz das nações, foi apresentado ao Pai no templo, também nós corramos ao encontro do Salvador.

II. Comentário

Hoje, aguentando o frio do inverno, Simeão aguarda a chegada do Messias. Há quinhentos anos, quando se começava a levantar o Templo, houve uma penúria tão grande que os construtores se desanimaram. Foi então quando Ageo profetizou: «O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira – oráculo do Senhor dos exércitos» (Ag 2,9); e completou que «sacudirei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos e encherei de minha glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos» (Ag 2,7). Frase que admite diversos significados: «o mais apreciado», dirão alguns, «o desejado de todas as nações», afirmará são Jerônimo.

A Simeão «Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor» (Lc 2,26), e hoje, «movido pelo Espírito», subiu ao Templo. Ele não é levita, nem escriba, nem doutor da Lei, é somente um homem «Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele» (Lc 2,25) O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito”. (cf. Jo 3,8).

Agora comprova com desconcerto que não se tem feito nenhum preparativo, não se veem bandeiras, nem grinaldas, nem escudos em nenhum lugar. José e Maria cruzam a explanada levando o Menino nos braços. «Levantai, ó portas, os vossos frontões, erguei-vos, portas antigas, para que entre o rei da glória» (Sal 24,7), clama o salmista.

Simeão avança para saudar a Mãe com os braços estendidos, recebe ao Menino e abençoa a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação. Que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel» (Lc 2,29-32).

Depois diz a Maria: «E uma espada traspassará a tua alma!» (Lc 2,35). Mãe! —digo-lhe— quando chegue o momento de ir à casa do Pai, leva-me nos braços como Jesus, que também eu sou teu filho e menino.

III. Atualização

• «Chegou já aquela luz verdadeira que vindo para este mundo ilumina todo homem.

Deixemos, irmãos, que esta luz nos penetre e nos transforme. Nenhum de nós ponha obstáculos para esta luz. Imitemos a alegria de Simeão e, como ele, cantemos um hino de ação de graças» (São Sofrônio)


• «O anúncio de Simeão parece como um segundo anúncio para Maria, porque lhe indica a concreta dimensão histórica na qual o Filho vai cumprir sua missão, em outras palavras, na incompreensão e na dor» (São João Paulo II)

• «Com Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador. Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, “luz das nações” e “gloria de Israel”, mas é também “sinal de contradição”. A espada de dor predita a Maria anuncia esta outra oblação, perfeita e única, da cruz, que dará a salvação que Deus “preparou diante de todos os povos”» (Catecismo da Igreja Católica, n°529)




terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Homília da Terça-feira da 4° Semana do Tempo Comum.

I. Introdução

Nesse relato temos duas narrativas entrelaçadas, trazendo duas mulheres: uma em plena adolescência (doze anos), com toda a vida pela frente, à beira da morte; a outra, há doze anos carregando o peso da exploração econômica e da discriminação religiosa. Jesus vence dois poderosos inimigos: a morte da menina e a doença incurável da mulher.

II. Comentário

Hoje consideramos a oração como combate da fé e vitória da perseverança. Em “Gênesis” (cap. 32), aquela misteriosa luta —“corpo a corpo” entre Jacó e Deus —anuncia algo do que hoje contemplamos na “hemorroisa” e em Jairo.

A oração pede confiança, proximidade, um “corpo a corpo” simbólico com Deus, tal como age a mulher que sofria hemorragia: “Se eu conseguir tocar...”. A “luta” conota força de ânimo, perseverança, tenacidade para atingir o que se deseja ante um Deus que abençoa se bem permanece sempre misterioso, como inalcançável.

Se o objeto do desejo é a relação com Deus, sua bênção e seu amor, então a luta culmina no reconhecimento da própria debilidade, que vence precisamente quando se abandona nas mãos misericordiosas de Deus: “a tua fé te salvou”.

Quando ninguém me escuta, quando já não posso invocar a ninguém, quando o problema parece desbordar toda esperança —tal era a situação de Jairo — então Deus ainda me escuta e me ajuda.

III. Atualização

• A mulher aproxima-se de Jesus, toca a roupa dele e fica curada; a menina é tocada por

Jesus e se levanta.

• O encontro e o contato com Jesus transformam e promovem a vida das pessoas. O tocar

em Jesus ou deixar-se tocar por ele é o gesto concreto de um encontro salvífico.

• A fé da mulher e a fé do pai da menina conseguem recuperar a dignidade dessas duas pessoas. A misericórdia de Jesus aliada à fé das pessoas restaura a plenitude da vida.

Como seria bom ouvir de Jesus: sua fé salvou você, vai em paz.