I. Introdução
A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta do amor e da solicitude de Deus pelas "ovelhas sem pastor". Esse amor e essa solicitude traduzem-se, naturalmente, na oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens.
Na primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Jahwéh condena os pastores indignos que usam o "rebanho" para satisfazer os seus próprios projetos pessoais; e, paralelamente, Deus anuncia que vai, Ele próprio, tomar conta do seu "rebanho", assegurando-lhe a fecundidade e a vida em abundância, a paz, a tranquilidade e a salvação.
II. Comentários
I LEITURA - Jr 23,1-6
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. A mensagem de Jeremias, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Jahwéh e à aliança.
Os líderes de Judá não procuraram servir o Povo, mas serviram-se do Povo para concretizar os seus objetivos pessoais. Ora, o "rebanho" não é propriedade dos "pastores", mas do Senhor. Deus chamou-os a uma missão concreta, encarregou-os de cuidar do seu "rebanho" e eles, depois de terem aceite o compromisso, falharam totalmente.
O texto recorda-nos que os irmãos que caminham conosco não estão ao serviço dos nossos interesses pessoais e que a nossa função é ajudar todos a encontrar a vida e a felicidade.
II LEITURA - Ef 2,13-18
O texto que nos é aqui proposto integra a parte dogmática da carta. Depois de refletir sobre o papel de Cristo no projeto de salvação que Deus tem para os homens (Ef 2,1-10), Paulo refere-se à reconciliação operada por Cristo, que com a sua doação uniu judeus e pagãos num mesmo Povo (Ef2,11-22).
A Lei de Moisés, com as suas prescrições e exigências (que, na prática, vedavam aos pagãos a possibilidade de integrar o Povo de Deus), fica anulada. Na nova economia da salvação, o que conta é a disponibilidade para acolher a vida que Deus oferece e ser Homem Novo.
EVANGELHO - Mc 6,30-34
O Evangelho deste domingo apresenta-nos o regresso dos enviados de Jesus. Marcos chama-lhes, agora, "apóstolos" (enviados): é a única vez que a palavra aparece no Evangelho segundo Marcos. O nosso texto começa com a narração do regresso dos discípulos que, entusiasmados, contam a Jesus a forma como se tinha desenrolado a missão que lhes fora confiada (v. 30). Na sequência, Jesus convida-os a irem com Ele para um lugar isolado e a descansarem um pouco (v. 31).
Entretanto, as multidões tinham seguido Jesus e os discípulos a pé - quer dizer, deslocando-se à volta do Lago de Tiberíades, com o barco sempre à vista. Esta busca incansável e impaciente espelha, com algum dramatismo, a ânsia de vida que as pessoas sentem. Jesus, cheio de compaixão, compara a multidão a um rebanho sem pastor.
A comoção de Jesus diante das "ovelhas sem pastor" é sinal da sua preocupação e do seu amor. Revela a sua sensibilidade e manifesta a sua solidariedade para com todos os sofredores. A comoção de Jesus convida-nos a sermos sensíveis às dores e necessidades dos nossos irmãos. Todo o homem é nosso irmão e tem direito a esperar de nós um gesto de bondade e de acolhimento.
III. Atualização
• O Evangelho nos convida a descobrir a importância de descansar no Senhor. Os apóstolos voltavam da missão que Jesus lhes havia dado. Haviam expulsado demônios, curado doentes e pregado o Evangelho. Estavam cansados e Jesus lhes disse: “vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!” (Mc 6, 31).
• Uma das tentações a que pode sucumbir qualquer cristão é a de querer fazer muitas coisas descuidando do trato com o Senhor. O Catecismo recorda que, na hora de fazer oração, um dos maiores perigos é pensar que há outras coisas mais urgentes e, dessa forma, se acaba descuidando do trato com Deus. Por isso Jesus, a seus Apóstolos, que trabalharam muito, que estavam esgotados e eufóricos porque tudo lhes correu bem, manda que descansem. E, acrescenta o Evangelho «foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós» (Mc 6,32). Para poder rezar bem são necessárias, ao menos duas coisas: a primeira é estar com Jesus, porque é a pessoa com que vamos falar.
• Temos que ter certeza de que estamos com Ele. Por isso todo tempo de oração começa, geralmente, e é o mais difícil, com um ato de presença de Deus. Tomar consciência de que estamos com Ele. E a segunda é a necessidade de solidão. Se queremos falar com alguém, ter uma conversa íntima e profunda, escolhemos um lugar isolado.
Pe. Edivânio José.