quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Homília da OITAVA DO Natal- Quarta-feira

I. Introdução

Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o seu próprio Filho: quem nele crê não perece, mas possui a vida eterna (Jo 3,16).

A Escritura diz: “Quem ama seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar”. Abertos à consolação que vem de Deus, disponhamo-nos a viver reconciliados com ele e com os irmãos e irmãs

II. Comentário

Depois de Jesus ter nascido, os pais levam-no ao templo de Jerusalém, conforme previa a Lei, e lá ofertam um par de rolas ou dois pombinhos, o que revela a condição social da família.

Os pais cumprem a Lei, pois pertencem a um povo e a uma religião, e o Filho é verdadeiramente humano. No templo, encontra-se Simeão, homem justo e piedoso, o qual se alegra por ver o Messias que vem do Senhor e, tomando o menino nos braços, confirma a profecia a respeito do Filho e da Mãe. Jesus, primogênito de Maria, é resgatado segundo a Lei.

O povo de Israel considerava o primogênito como propriedade de Deus. Jesus pertence a Deus e cumpre a vontade do Pai para a salvação de toda a humanidade, abrindo assim a universalidade da missão do Messias. Por ser Mãe, Maria sofrerá as consequências alegres e as dores do Filho.

Oração

Ó Jesus Menino, foste apresentado ao Senhor pelo justo e piedoso Simeão. Incentiva- nos a viver em comunhão com Deus e a participar da vida litúrgica da Igreja. Ensina os líderes religiosos a ser hospitaleiros e amáveis com todos os que vão a tua procura na comunidade cristã. Amém.



terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Homília da Oitava de Natal- 28 Santos Inocentes

 I. Introdução

Os meninos inocentes foram mortos por causa do Cristo. Eles seguem o Cordeiro sem mancha e cantam: Glória a ti, Senhor!

Vítimas da crueldade de Herodes, muitas crianças foram arrancadas dos braços de suas mães e trucidadas. Ao fazer memória dos Santos Inocentes, a Igreja mostra que eles são a imagem do próprio Jesus, que se identificou com os mais pequeninos e entregou sua vida pela nossa salvação. Que esta festa desperte em nós profundo zelo pelos pequenos de nossa sociedade.

II. Comentário

Os Santos Inocentes não chegaram sequer a tomar consciência de si mesmos. Suas vidas não puderam desabrochar, seus lábios foram impedidos de louvar a Deus, porém seu sangue inocente banhou a terra e ficou à espera de outro sangue inocente, o de Jesus, derramado em resgate da humanidade pecadora.

Santos Inocentes Mártires, primeiro elo de uma interminável cadeia de outros inocentes, cujas vidas são interrompidas, às vezes por motivos levianos: abortos, guerras e acidentes de várias espécies.

A matança dos inocentes deixa na história uma marca repugnante e nos faz repudiar com veemência a insana e cruel atitude de qualquer pessoa que se apodera da vida alheia ou própria para destruí-la. Senhor da vida é somente Deus. Os Santos Inocentes Mártires são celebrados desde o século VI.

III. Atualização

• Hoje, também as crianças, e as crianças por nascer, os ameaçam o egoísmo, daqueles

que sofrem a sombra da desesperança em seu coração, a desesperança que semeia o

medo e que leva a matar.

• Hoje também, nossa cultura individualista se nega a ser fecunda, se refugia em uma

permissibilidade que nivela por baixo, ao que o preço dessa não fecundidade seja o sangue de um inocente. Estamos influenciados por um “teísmo biodegradador” do humano, esse “teísmo spray” que pretende suprimir a grande verdade (o Verbo que se tem encarnado). A proposta cultural que recai sobre si mesmo em uma dimensão egoisticamente individualista, se constrói por traz dos direitos das pessoas, e das crianças. Esses são recursos do Herodes moderno.

• Jesus “menino por nascer” nos convoca a coragem. Não queremos degradar-mo-nos na “cultura da facilidade” que nos anula sempre, porque pouco a pouco, termina sendo a cultura da morte.



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Homília do Dia 27 de Dezembro: São João, apóstolo e evangelista

 I. Introdução

Hoje, a liturgia celebra a solenidade de são João, apóstolo e evangelista. Ao dia seguinte de Natal, a Igreja celebra a festa do primeiro mártir da fé cristã: são Estevão. E ao dia seguinte, a festa de são João, aquele que melhor e mais profundamente penetra no mistério do Verbo encarnado, o primeiro “teólogo” e modelo de tudo verdadeiro “teólogo”.

II. Comentário

A passagem do seu Evangelho que hoje se propõe ajuda-nos a contemplar o Natal desde a perspectiva da Ressurreição do Senhor. Por isso, João, ao chegar até o túmulo vazio, «viu e creu» (Jo 20,8). Confiados na testemunha dos Apóstolos, nos vemos movidos em cada Natal a “ver” e “crer”.

Cada um pode reviver esses “ver” e “crer” a propósito do nascimento de Jesus, o Verbo encarnado. João movido pela intuição do seu coração —e, deveríamos acrescentar pela “graça”— “vê mais além do que seus olhos naquele momento podem contemplar. Na realidade, se ele crê, vê sem “ter visto” ainda a Cristo, com o qual já tem implícita a louvação para aqueles que «não viram, e creram!» (Jo 20,29), com o qual acaba o capítulo do seu Evangelho.

Pedro e João “correm” juntos até o túmulo, mais o texto nos diz que João «o outro discípulo correu mais depressa, chegando primeiro ao túmulo» (Jo 20,4). Parece como se João desejasse mais estar ao lado de Aquele que amava —Cristo— do que estar fisicamente ao lado de Pedro, ante o qual, porém —com um gesto de esperá-lo e que seja ele quem entre primeiro ao túmulo— demonstra que é Pedro quem tem a primazia no Colégio Apostólico. Com tudo, o coração ardente, cheio de zelo, fervoroso de amor por João, é o que o leva a “correr” e “avançar”, convidando-nos a viver igualmente a nossa fé com este desejo ardente de encontrar ao Ressuscitado.

III. Atualização

• «João, junto da manjedoura, diz-nos: vede o que se concede a quem se entrega a Deus

de coração puro. Eles participarão da total e inesgotável plenitude da vida humano-

divina de Cristo como recompensa real» (Santa Teresa Benedita da Cruz)

• «Que melhor comentário sobre o `mandamento novo ́, do que aquele de que nos fala

São João? Peçamos ao Pai que o vivamos, mesmo que seja sempre de forma imperfeita, de modo tão intenso que contagie aqueles que encontramos no nosso caminho» (Benedito XVI)

• «Retomando a expressão de São João («o Verbo fez-Se carne»: Jo 1, 14), a Igreja chama “Encarnação” ao facto de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana, para nela levar a efeito a nossa salvação (...)» (Catecismo da Igreja Católica, no461)




domingo, 26 de dezembro de 2021

Homília da Sagrada Família.

I. Introdução

Hoje vemos Jesus no templo – a “casa” de seu Pai-Deus. Ele estava lá quando completou seus 40 dias, para o rito da apresentação. Agora ele retorna quando menino, sabendo o que está fazendo. Na verdade, ele ficou lá por três dias, conversando com os professores de Israel, surpreso com sua sabedoria.

II. Comentário

Hoje, é importante o que Lucas diz sobre como Jesus crescia não só em idade mas também em sabedoria. Com a resposta do menino aos doze anos ficou claro, por um lado, que Ele conhece o Pai —Deus— desde dentro: como Filho, Ele vive num “tu a tu” com o Pai. Está na Sua presença. Vê-O. João diz que Ele é o unigénito, “que está no seio do Pai”, e por isso pode revelá-Lo.

Mas, por outro lado, também é certo que a sua sabedoria cresce. Enquanto homem, não vive numa omnisciência abstrata, antes está ligado a uma história concreta, num lugar e num tempo, nas diferentes fases da vida humana. Assim se demonstra aqui de modo muito claro que Ele pensou e aprendeu de modo humano.

Embora permanecendo o mistério, nesta narração manifesta-se concretamente que Jesus Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, tal como a fé da Igreja formula.

III. Atualização

• «Como gostaríamos que o amor ao silêncio se renovasse e se reforçasse em nós, este

hábito admirável e indispensável do espírito. —Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento e a interioridade» (São Paulo VI)

• «O Senhor entrou humildemente na terra. Ele cresceu como uma criança normal, ele passou pelo teste de trabalho, mesmo também pela prova da cruz. No final, ele ressuscitou. O Senhor nos ensina que na vida nem tudo é mágico, o triunfalismo não é cristão» (Francisco)

• «Jesus compartilhou, durante a maior parte da sua vida, a condição da grande maioria dos homens: uma vida cotidiana sem importância aparente, uma vida de trabalho manual, uma vida Religioso judeu sujeito à lei de Deus, uma vida em comunidade. De todo esse período nos é dito que Jesus foi “submetido” a seus pais e que ‘ele progrediu em sabedoria, estatura e na graça diante de Deus e dos homens ‘ (Lc 2,51-52)» (Catecismo da Igreja Católica, n. 531)




sábado, 25 de dezembro de 2021

Homília do Dia de Natal – 25 de Dezembro

 I. Introdução

Hoje, nasceu-nos o Salvador. Esta é a boa nova desta noite de Natal. Como em cada Natal, Jesus volta a nascer no mundo, em cada casa, no nosso coração.

II. Comentário

Contrariamente ao que a nossa sociedade consumista celebra, Jesus não nasce num ambiente de abastança, de compras, de conforto, de caprichos e de grandes refeições. Jesus nasce com a humildade de um portal e de um presépio.

E fá-lo deste modo porque é rejeitado pelos homens: ninguém quis dar-lhes guarida, nem nas casas nem nas estalagens. Maria e José, e o próprio Jesus recém-nascido, sentiram o que significa a rejeição, a falta de generosidade e de solidariedade.

Depois, as coisas mudaram, e com o anúncio do Anjo — «Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo» (Lc 2,10) —todos correram para o presépio para adorar o Filho de Deus. Foi um pouco como a nossa sociedade, que marginaliza e rejeita muitas pessoas porque são pobres, estrangeiras ou simplesmente diferentes, e depois celebra o Natal falando de paz, solidariedade e amor.

Hoje, nós os cristãos estamos cheios de alegria, e com razão. Como afirma São Leão Magno: «Hoje não está certo que haja lugar para a tristeza, no momento em que nasceu a vida». Mas não podemos esquecer que este nascimento nos exige um compromisso: viver o Natal do modo mais parecido possível com o que viveu a Sagrada Família. Quer dizer, sem ostentações, sem gastos desnecessários, sem pôr a casa de pernas para o ar. Celebrar e fazer festa são compatíveis com austeridade e até com a pobreza.

Por outro lado, se durante estes dias não temos verdadeiros sentimentos de solidariedade para com os rejeitados, forasteiros, sem teto, é porque no fundo somos como os habitantes de Belém: não acolhemos o nosso Menino Jesus.

III. Atualização

• «Demos graças a Deus Pai através do seu Filho, no Espírito Santo, porque se

compadeceu de nós pela imensa misericórdia com que nos amou. Estando nós mortos pelos pecados, ele nos fez viver com Cristo, para que graças a ele sejamos uma nova criatura» (São Leão Magno)

• «Neste dia nasceu, da Virgem Maria, Jesus o Salvador. Vamos a adorar a Bondade de Deus feito carne e deixemos que as lágrimas de arrependimento encham os nossos olhos e lavem o nosso coração. Todos nós precisamos» (Francisco)

• «Jesus nasceu na humildade dum estábulo, no seio duma família pobre. As primeiras testemunhas deste acontecimento são simples pastores. E é nesta pobreza que se manifesta a glória do céu. A Igreja não se cansa de cantar a glória desta noite: ‘Hoje a Virgem dá à luz o Eterno e a terra oferece uma gruta ao Inacessível. Cantam-n’O os anjos e os pastores, e com a estrela os magos põem-se a caminho, porque Tu nasceste para nós, pequeno Infante. Deus eterno!’» (Catecismo da Igreja Católica, no 525




sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Homília do Advento: 24 de Dezembro

I. Introdução

Hoje, o Evangelho recolhe o cântico de louvor de Zacarias após o nascimento do seu filho. Na primeira parte, o pai de João dá graças a Deus, na segunda parte os seus olhos voltam- se para o futuro. Todo ele propaga alegria e esperança ao reconhecer a ação salvadora de Deus para com Israel, que culmina na vinda do próprio Deus encarnado, preparada pelo filho de Zacarias.

II. Comentário

Já sabemos que Zacarias tinha sido castigado por Deus devido à sua incredulidade. Porém, agora quando a ação divina se manifesta totalmente na sua própria carne – pois recupera a fala — exclama aquilo que até então não podia dizer senão com o coração; e certamente que o dizia: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel ... (Lc 1,68). Quantas vezes vemos as coisas de forma obscura, negativa, pessimista! Se tivéssemos a visão sobrenatural que Zacarias demonstra no Canto do Benedictus, viveríamos permanentemente com alegria e esperança.

«O Senhor está próximo; o Senhor já está aqui!» O pai do Percursor está consciente de que a vinda do Messias é, acima de tudo, luz. Uma luz que ilumina os que vivem na obscuridade, nas sombras da morte, ou seja, nós próprios! Oxalá nos demos conta, com plena consciência, de que o Menino Jesus vem iluminar as nossas vidas, vem guiar-nos, assinalar-nos por onde devemos andar...! Oxalá nos deixemos guiar pelas suas inspirações, por aquela esperança que nos transmite!

Jesus é o «Senhor» (cf. Lc 1,68.76), mas também é o «Salvador» (cf. Lc 1,69). Estas duas confissões (atribuições) que Zacarias faz a Deus, tão próximas da Noite de Natal, sempre me surpreenderam, porque são exatamente as mesmas que o Anjo do Senhor atribuirá a Jesus no anúncio aos pastores e que podemos escutar com emoção logo à noite na Missa da Meia Noite. É que quem nasce é Deus!

III.

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Atualização

«Nós somos a tua imagem e Tu és a nossa, graças à união que realizaste no homem. É através deste imenso amor que suplico humildemente a Vossa Majestade, com todas as forças da minha alma, que tenhais piedade, com toda a vossa generosidade, destas vossas miseráveis criaturas» (Santa Catarina de Sena) «Misericórdia: é a lei fundamental que habita no coração de cada pessoa quando observa, com olhos sinceros, o irmão que encontra no caminho da sua vida. Misericórdia: é a via que une Deus e o homem» (Francisco)

« São João Baptista é o precursor imediato do Senhor, enviado para Lhe preparar o caminho (cf. Mt 3,3); e inaugura o Evangelho» (Catecismo da Igreja Católica, no 523)




quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Homília do Advento: 23 de Dezembro

Homília do Advento: 23 de Dezembro

I. Introdução

Agora nasceu o “precursor” de Jesus. No rito da circuncisão dão-lhe o nome de João. E Zacarias recupera a voz! Com essa voz cantará a bondade de Deus. Tu também.

II. Comentário

Hoje perguntamo-nos: “Que vai ser este menino?”. Sua aparição levava consigo algo totalmente novo: Desde sua concepção até sua circuncisão —com o nome de João— chegando até seu ministério, tudo é original. João anunciará alguém Grande que havia de vir depois dele. Foi enviado para preparar o caminho a esse misterioso Outro; toda sua missão está orientada a Ele.

Nos Evangelhos descreve-se essa missão com passagens do Antigo Testamento (Isaías, Malaquias, Êxodo): “Uma voz clama no deserto: Preparem, preparem o caminho do Senhor; Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o meu caminho diante de ti...” Com a predicação do Batista se fizeram realidade todas estas antigas palavras de esperança: Se anunciava algo realmente grande.

Por fim aparecia um profeta cuja vida também lhe acreditava como tal. Por fim se anunciava de novo a ação de Deus na história. João batiza com água, mas o Grande, Aquele que batizará com o Espírito Santo e com “fogo”, está por vir.

III.

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Atualização

A vida do Precursor ensina-nos as virtudes que necessitamos para receber com proveito a Jesus; fundamentalmente, a humildade de coração. Ele reconhece-se instrumento de Deus para cumprir a sua vocação, a sua missão.

Como diz Santo Ambrósio: «Não te glories por te chamarem filho de Deus — reconheçamos a graça sem esquecer a nossa natureza—; não te envaideças se serviste bem, porque apenas cumpriste aquilo que tinhas a fazer.

O sol faz o seu trabalho a lua obedece; os anjos cumprem a sua missão. O instrumento escolhido pelo Senhor para os gentios diz: ‘Eu não mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus’ (1Cor 15,9)».