segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Homilia da Segunda-feira da 1a semana do Advento.

I. Introdução

Hoje, Cafarnaum é a nossa cidade e a nossa aldeia, onde há pessoas doentes, umas conhecidas, outras anônimas, frequentemente esquecidas por causa do ritmo frenético que caracteriza a vida atual: carregados de trabalho, vamos correndo sem parar e sem pensar naqueles que, por causa da sua doença ou de outra circunstância, ficam à margem e não podem seguir esse ritmo. Porém, Jesus nos dirá um dia: «todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25,40). O grande pensador Blaise Pascal recolhe esta ideia quando afirma que «Jesus Cristo, nos seus fieis, encontra-se na agonia de Getsemani até ao final dos tempos».

II. Comentário

O centurião de Cafarnaum não se esquece do seu criado prostrado no leito, porque o ama. Apesar de ser mais poderoso e de ter mais autoridade que o seu servo, o centurião agradece todos os seus anos de serviço e tem por ele grande admiração. Por isso, movido pelo amor, dirige-se a Jesus e na presença do Salvador faz uma extraordinária confissão de fé, recolhida pela liturgia Eucarística: «Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Diz uma só palavra e o meu criado ficará curado» (Mt 8,8).

Esta confissão fundamenta-se na esperança; brota da confiança posta em Jesus Cristo, e ao mesmo tempo, também do seu sentimento de indignidade pessoal que o ajuda a reconhecer a sua própria pobreza.

Só nos podemos [a] aproximar de Jesus Cristo com uma atitude humilde, como a do centurião. Assim poderemos viver a esperança do Advento: esperança de salvação e de vida, de reconciliação e de paz. Apenas pode esperar aquele que reconhece a sua pobreza e é capaz de perceber que o sentido da sua vida não está nele próprio mas em Deus, pondo-se nas mãos do Senhor. Aproximemo-nos com confiança de Cristo e, ao mesmo tempo, façamos nossa a oração do centurião.

III. Atualização

• «Que pensamos que Jesus alabou na fé do centurião? A humildade. A humildade do

centurião foi a porta por onde o Senhor entrou» (Santo Agostinho)

• «O Senhor maravilhou-se deste centurião. Maravilhou-se da fé que ele tinha. Por isso não somente encontrou ao Senhor, se não que sentiu a alegria de ter sido encontrado

pelo Senhor. É muito importante!» (Francisco)

• Perante a grandeza deste sacramento [a eucaristia], o fiel só pode retomar

humildemente e com ardente fé a palavra do centurião: « Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei salvo» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1386)



domingo, 28 de novembro de 2021

Homilia do I Domingo do Advento

 I. Introdução

Hoje, justamente ao começar um novo ano litúrgico, fazemos o propósito de renovar nossa ilusão e nossa luta pessoal visando à santidade, própria e de todos.

A própria Igreja nos convida, recordando-nos no Evangelho de hoje, a necessidade de estar sempre atentos, sempre “enamorados” do Senhor: «Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida» (Lc 21,34).

II. Comentário

Reparemos num detalhe que é importante entre namorados: essa atitude de alerta — de preparação— não pode ser intermitente, mas deve ser permanente. Por isso, nos diz o Senhor: «ficai atentos e orai a todo momento» (Lc 21,36). A todo momento!: essa é a justa medida do amor.

A fidelidade não se faz na base de “agora sim, agora não”. É, portanto, muito conveniente que nosso ritmo de piedade e de preparação espiritual seja um ritmo habitual (dia a dia e semana a semana). Tomara que cada jornada da nossa vida vivamo-la com a mentalidade de estrearmos; tomara que cada manhã —ao acordarmos— logremos dizer: Hoje volto a nascer (obrigado, meu Deus!); hoje volto a receber o Batismo; hoje volto a fazer a Primeira Comunhão; hoje me caso novamente... Para perseverar com ar alegre, há de se “re- estrear” e se renovar.

Nesta vida não temos cidade permanente. Chegará o dia que incluso «as potências celestes serão abaladas» (Lc 25,26). Bom motivo para permanecer em estado de alerta! Mas, neste Advento, a Igreja acrescenta um motivo muito bonito para nossa gozosa preparação: certamente, um dia os homens «verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem, com grande poder e glória» (Lc 25,27), mas agora Deus chega à terra com mansidão e discrição; em forma de recém-nascido, até o ponto que «Cristo viu-se envolto em fraldas dentro de um presépio» (São Cirilo de Jerusalém).

Somente um espírito atento descobre neste Menino a magnitude do amor de Deus e sua salvação (cf. Sajustamente ao começar um novo ano litúrgico, fazemos o propósito de renovar nossa ilusão e nossa luta pessoal visando à santidade, própria e de todos. A própria Igreja nos convida, recordando-nos no Evangelho de hoje, a necessidade de estar sempre atentos, sempre “enamorados” do Senhor: «Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida» (Lc 21,34).

III. Atualização

• Jesus pede-nos um espírito desperto e vigilante. Acontece algo? Sim, Cristo veio à

terra há vinte séculos e muitos ainda não sabem ou não fazem caso: os seus corações

estão muito ocupados com coisas e mais coisas.

• A liberdade serve sobretudo para amar, não para se entreter.

• Quando rezamos somos capazes de honrar Deus no meio deste mundo tão

apaixonante, gozando das coisas sem deixar-nos roubar o coração pelas coisas.

• Só há um amor que tem o direito de “roubar” o meu coração!



sábado, 27 de novembro de 2021

Homília do Sábado da 34° semana do tempo comum Comentário

 Hoje, Jesus pede-nos um espírito desperto e vigilante. Acontece algo? Sim,

 Cristo veio à terra há vinte séculos e muitos ainda não sabem ou não fazem caso: os

 seus corações estão muito ocupados com coisas e mais coisas. A liberdade serve

 sobretudo para amar, não para se entreter.

 Quando rezamos somos capazes de honrar Deus no meio deste mundo tão

 apaixonante, gozando das coisas sem deixar-nos roubar o coração pelas coisas. Só

  há um amor que tem o direito de “roubar” o meu coração!




sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Homília da Sexta-feira da 34° semana do tempo comum

I. Introdução

II. Comentário

  Hoje admiramos aos primeiros cristãos discernindo os sinais do seu tempo:

 deviam-se reunir e ler juntos os fragmentos —misteriosos— da palavra de Jesus

 Cristo. Tarefa nada fácil, que enfrentaram a partir de Pentecostes e, antes do fim

 material do Templo, todos os elementos essenciais desta nova síntese

 encontravam-se já na teologia paulina.

  Para predicar e orar, a Igreja nascente reunia-se em o Templo, mas o “partir o

pão” (o novo centro “cultual”, relacionado com a “Ultima Ceia”, morte e

 ressurreição do Senhor) acontecia em casa. Nesse momento já se perfilava, pois,

 uma distinção essencial: os sacrifícios substituíram-se por o “partir o pão”.

 Na nova síntese teológica destacam-se dois nomes. Para Estevão começou um

 tempo novo que o leva a cumprir aquilo realmente originário: com Jesus passou

 o período do sacrifício no Templo. Mas a vida e a mensagem deste “Protomártir”

 —declarando ante o Senedrim— ficaram interrompidos com a sua lapidação.

 Correspondeu a outro, Saulo —depois São Paulo!— completar esta visão

 teológica.




quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Homília da Quinta-feira da 34° semana do tempo comum.

I. Introdução

II. Comentário

  Hoje, ao ler este santo Evangelho, como não ver o reflexo do momento

 presente, cada vez mais cheio de ameaças e mais tingido de sangue? «Na terra, as

 nações ficarão angustiadas, apavoradas com o bramido do mar e das ondas.

  As pessoas vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao

  mundo» (Lc 21,25b-26a). A segunda vinda do Senhor tem sido representada,

inúmeras vezes, pelas mais aterrorizadoras imagens, como parece ser neste

 Evangelho; sempre sob o signo do medo.

 Porém, será esta a mensagem que hoje nos dirige o Evangelho? Fiquemos

 atentos às últimas palavras: «Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-

 vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima» (Lc 21,28). O núcleo

 da mensagem destes últimos dias do ano litúrgico não é o medo; mas sim, a

 esperança da futura libertação, ou seja, a esperança completamente cristã de

 alcançar a plenitude da vida com o Senhor, na qual participarão, também, nosso

 corpo e o mundo que nos rodeia.

 Os acontecimentos narrados tão dramaticamente indicam, de modo

 simbólico, a participação de toda a criação na segunda vinda do Senhor, como já

 participou na primeira, especialmente no momento de sua paixão, quando o céu

 escureceu e a terra tremeu. A dimensão cósmica não será abandonada no final dos

 tempos, já que é uma dimensão que acompanha o homem desde que entrou no

 Paraíso.

  III. Atualização

A esperança do cristão não é enganadora, porque quando essas coisas

 começarem a acontecer —nos diz o próprio Senhor— «Então, verão o

 Filho do Homem, vindo numa nuvem, com grande poder e glória» (Lc

 21,27). Não vivamos angustiados perante a segunda vinda do Senhor, a

 sua Parúsia: meditemos, antes, nas profundas palavras de Santo

 Agostinho que, já no seu tempo, ao ver os cristãos temerosos frente ao

 regresso do Senhor, se pergunta: «Como pode a Esposa ter medo do seu

 Esposo?».



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Homília da Quarta-feira da 34° Semana do Tempo Comum Comentário.

 Hoje, o profeta de Jesus nos prepara para o caminho. Não foi a primeira vez

 que Ele nos advertiu sobre as tribulações (mal-entendidos, persecuções...) que virá

 —e têm vindo— vindo o tempo. Ninguém é tão perseguido como Jesus Cristo e seus

 discípulos! Ou mesmo são Paulo nos perseguiu até a morte. Mas, «confiai, eu venci o

 mundo».

 Porque Deus permite tanta perseguição? Só Ele sabe, mas nós nos

  entrevemos nele um grande Amor: quanta Paciência!; quanta Misericórdia! E assim é

como como Deus vence ao mundo. Nós também: «Com sua perseverança salvará

 suas almas». Sangue de mártires, semente de cristãos.



terça-feira, 23 de novembro de 2021

Homilia da Terça-feira do 34° semana do tempo comum.

I. Introdução

II. Comentário

  Hoje, começando o “Discurso Escatológico” reencontramos o anúncio do

 dramático final do Templo de Jerusalém.

  O “Senhor da História” nem errou nem exagerou... Efetivamente, em 5 de

 agosto do 70 (uns 40 anos depois de sua Ascensão) houve um acontecimento de

  grandes consequências para a história das religiões: por causa da carestia dos

elementos necessários, tiveram que suspender o sacrifício quotidiano no Templo.

 Pouco tempo depois, foi demolido pelos romanos.

 Para o judaísmo, o cesse do sacrifício e a destruição do Templo foi uma

 comoção terrível. Templo e sacrifício estavam no centro da Torá. E ainda mais: Deus,

 que tinha colocado seu nome neste Templo e que misteriosamente habitava nele, o

 abandonou; já não era sua moradia sob a Terra. O Antigo Testamento devia ler-se de

 um novo modo!

 É o Sangue do Cordeiro de Deus (Jesus) o que quita os pecados do mundo; o

 dos animais sacrificados era só uma figura dessa realidade suprema.