domingo, 25 de julho de 2021

Homília do 17º Domingo do Tempo Comum - Ano B

I. Introdução


A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a "fome" de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta conosco para repartir o seu "pão" com todos aqueles que têm "fome" de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.

Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.

 

II. Comentários

 

1. I. Leitura: 2 Re 4,42-44

Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a "fome" do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os "profetas" são convidados a realizar.

Estamos, aqui, diante de uma sucessão de gestos que revelam generosidade e vontade de partilhar: do homem que leva os dons ao profeta e do profeta que não os guarda para si, mas os manda partilhar com as pessoas que o rodeiam. A descrição de uma milagrosa multiplicação de pães de cevada e de grãos de trigo sugere que, quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram.

 

2. II. Leitura: Ef 4,1-6

Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preconceito em relação aos irmãos.

A condição de prisioneiro por causa de Jesus e do Evangelho dá um peso especial às recomendações do apóstolo: são as palavras de alguém que leva tão a sério a proposta de Jesus, que é capaz de sofrer e de arriscar a vida por ela. Na perspectiva de Paulo, a vida nova exige, em primeiro lugar, que os crentes vivam unidos em Cristo.

3. Evangelho: Jo 6,1-15

O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da "fome" da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. 

No capítulo 6 - que hoje começamos a ler - João apresenta Jesus como o Pão que sacia a sede de vida que o homem sente. O episódio hoje narrado é geograficamente situado "na outra margem" do Lago de Tiberíades (no capítulo anterior, Jesus estava em Jerusalém, no centro da instituição judaica; agora, sem transição, aparece na Galileia, a atravessar o "mar" para o outro lado). 

Em termos cronológicos, João nota que estava perto a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egito.

A multidão segue Jesus, pois quer ver os sinais que Ele faz e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Já perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão.

 

III. Atualização

 

• Estava próxima a Páscoa. Celebrar a Páscoa era atualizar, por meio de ritos e palavras, o acontecimento mais significativo para o povo de Deus: a saída da escravidão do Egito (Êxodo). 
• Era a festa da libertação. Ora, é nesse contexto que Jesus sacia a multidão faminta. Serve-se do que o povo traz consigo, cinco pães e dois peixinhos (7 é símbolo de totalidade), bendiz a Deus pelos bens da criação e distribui o alimento, de tal modo que todos ficam satisfeitos e ainda sobra muito, que é recolhido. 
• Não se deve desperdiçar o dom de Deus. Jesus é o grande libertador da fome da humanidade (fome material e fome espiritual). Usa o expediente da partilha do alimento entre todos. Mais tarde, ao instituir a eucaristia, Jesus entregará sua própria vida “para a vida do mundo”.

 


Pe. Edivânio José.

sábado, 24 de julho de 2021

Homília do Sábado XVI do Tempo Comum

I. Introdução

Vigiemos para que o maligno não se introduza em nossas vidas, coisa que ocorre quando nos acomodamos ao mundo. Dizia Santa Ângela da Cruz que não devemos dar ouvidos às vozes do mundo, de que em todos os lugares se faz isto ou aquilo.

Nós sempre fazemos o mesmo, sem inventar variações, e seguindo a maneira de fazer as coisas, que são um tesouro escondido; são as que nos abrirão as portas do céu. Que a Santíssima Virgem Maria nos conceda acomodar-nos somente ao amor. 

II. Comentário

Uma realidade ambígua e medíocre, mas nela cresce o Reino. Trata-se de sentir-nos chamados a descobrir os sinais do Reino de Deus para potencializá-lo. E, por outro lado, não favorecer nada que ajude a contentar-nos na mediocridade. No entanto, o fato de viver em uma mescla de bem e de mal não deve impedir o progresso em nossa vida espiritual; o contrário seria converter nosso trigo em intriga. 

Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio? (Mt 13,27). É impossível crescer de outro modo, nem podemos procurar o Reino em nenhum outro lugar, senão nesta sociedade em que vivemos. Nossa tarefa será fazer com que nasça o Reino de Deus.

Consideramos uma parábola como uma ocasião para referir-nos à vida da comunidade onde se misturam, continuamente, o bem e o mal, o Evangelho e o pecado. A atitude lógica seria acabar com esta situação, tal como o pretendem os servos: O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. 

Os servos perguntaram ao dono: ‘Queres que vamos retirar o joio? (Mt 13,28). Mas a paciência de Deus é infinita, espera até o último momento como um pai bom a possibilidade de mudança: Deixai crescer um e outro até a colheita (Mt 13,30).

III. Atualização
• O Evangelho nos chama a não acreditar nos “puros”, a superar os aspectos de puritanismo e de intolerância que possam existir na comunidade cristã. 
• Facilmente ocorrem atitudes deste tipo em todas as coletividades, por mais sadias que tentem ser. 
• Em frente a um ideal, temos todos a tentação de pensar que alguns já o alcançamos e que outros estão longe. Jesus constata que todos estamos no caminho, absolutamente todos.


 

Pe. Edivânio José.

 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Homília da Sexta-feira da 16ª semana do Tempo Comum

 I. Introdução

A fé sem caridade não dá fruto, e a caridade sem fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. A fé e o amor precisam-se mutuamente de jeito que uma permite à outra seguir o seu caminho. 

Com palavras fortes que sempre concerne aos cristãos, o apóstolo São Tiago diz Se não se traduz em ações [a fé] por si só está mortaMostra-me a tua fé sem as ações, que eu te mostrarei a minha fé a partir de minhas ações (Tg 2,17-18).

 

II. Comentário

Hoje, a “Parábola do semeador” é uma advertência que não devemos esquecer, e um constante convite a responder com frutos ao amor com que Ele cuida de nós. A fé permite-nos reconhecer a Cristo no próximo, e Seu próprio Amor nos impulsa a transformar a Palavra recebida em vida entregada.

Hoje, contemplamos a Deus como um lavrador bom e magnânimo, que semeia com as mãos cheias. Não poupou nada para a redenção do homem, mas gastou tudo em seu próprio Filho, Jesus Cristo, que como grão enterrado (morte e sepultamento) converteu-se em nossa vida e ressurreição graças à sua santa Ressurreição.

Hoje Jesus explica a “Parábola do semeador”. Caminho, pedregal, obstáculos, terra boa semcomentários. Você mesmo! Onde você se localiza?

 

III. Atualização
• O cultivo de Deus que nasce e cresce assim na terra é um fato visível em seus efeitos; podemos vê-los nos milagres autênticos e nos exemplos clamorosos de santidade de vida. Há muita gente que depois de haver escutado todas as palavras e o ruído deste mundo, tem fome e sede de ouvir a autêntica Palavra de Deus, ali onde ela se encontra viva e encarnada. 
• Há milhões de pessoas que vivem a sua pertença a Jesus Cristo e à Igreja com o mesmo entusiasmo inicial do Evangelho, pois a palavra divina encontra a terra onde germinar e dar fruto (São Agostinho); o que temos que fazer é levantar a nossa moral e olhar o futuro com olhos de fé.



 

Pe. Edivânio José.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Homília da Quinta-feira do 16º Tempo Comum.

I. Introdução

O Ressuscitado dá-nos a certeza de que o bem triunfa sempre sobre o mal, que a vida vence sempre a morte e que o nosso fim não é descer cada vez mais, de tristeza em tristeza, mas subir às alturas. O Ressuscitado é a confirmação de que Jesus tem razão em tudo: em prometer-nos vida para além da morte e perdão para além dos pecados. 

Os discípulos duvidaram, não acreditaram. A primeira que acreditou e viu foi Maria Madalena, a apóstola da ressurreição, que foi dizer-lhes que tinha visto Jesus, que a tinha chamado pelo nome. 

 

II. Comentário

Maria de Magdala é a mulher que seguiu constantemente Jesus desde a Galileia até a Judeia. Presente aos pés da cruz e diligente no sepultamento de Jesus, foi a primeira a encontrar-se com o Ressuscitado e também a primeira missionária a anunciar a Boa-Nova aos apóstolos (v. 17). 

Maria Madalena é mencionada no grupo de mulheres que “serviam Jesus com os bens que possuíam” (Lc 8,3). Ali se diz que dela foram expulsos “sete demônios”, expressão que acabou dando margem para variadas interpretações, algumas sem cabimento. Houve época em que Maria Madalena foi identificada com a pecadora pública (Lc 7,36) ou com a adúltera (Jo 8,1). Os textos bíblicos a ela referentes não afirmam isso.

A notícia do desaparecimento do corpo do Senhor deixou-a perplexa. Com isso, perdia um sinal seguro da presença do amigo querido, mesmo reduzido a um cadáver. Sem ele, não teria um lugar preciso ao qual se dirigir quando quisesse prantear a perda irreparável do amigo.

 

III. Atualização
• A cena comovente do encontro de Maria de Mágdala com Jesus evidencia a mudança de relacionamento entre o discípulo e o Mestre, operada a partir da ressurreição. A nova condição de Jesus exigia um novo tipo de relacionamento.
• Maria expressou o carinho que nutria por Jesus nos vários detalhes de seu comportamento.
• Num primeiro momento, Maria pensou tratar-se de um jardineiro. Demonstrando uma admirável fortaleza de ânimo mostrou-se disposta a ir, sozinha, buscar o cadáver do Mestre para recolocá-lo no sepulcro. 



 

Pe. Edivânio José.

 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Homília da Quarta-feira do 16º do Tempo Comum.

I. Introdução

Contar parábolas era um recurso pedagógico de que Jesus se servia com frequência para falar do Reino de Deus. Em todos os tempos e lugares, as histórias, os testemunhos edificantes sempre penetraram mais facilmente na alma do povo. 

A parábola do semeador descreve o dinamismo da Palavra proclamada, as dificuldades que encontra em seu desenvolvimento, o êxito final. É possível que as multidões logo tenham entendido que Jesus fazia referência à Palavra de Deus espalhada abundantemente por toda parte. 

 

II. Comentário

A Palavra (semente) era de boa qualidade, mas os resultados dependeriam do modo como seria ouvida e acolhida. “Quem tiver ouvidos, ouça!”, concluía Jesus. Ouça a Palavra de Deus e deixe-se penetrar e transformar por ela, para dar frutos na sociedade. Nada de ser um ouvinte superficial.

Dispostos a se tornarem servidores do Reino, os discípulos não deveriam pensar que só encontrariam sucesso pela frente. Era preciso ser realista e, de antemão, dar-se conta da dinâmica do Reino. O sucesso, sem dúvida, viria, porém em meio a perdas e fracassos.

O processo de semeadura serviu para ilustrar este aspecto do Reino. O semeador, segundo o costume da época, lançava a semente ao deus-dará. Umas caíam à beira do caminho, outras, em terreno pedregoso, outras, no meio de espinhos.

 

III. Atualização
• Nem por isso o semeador deixava de semear. Embora soubesse que boa parte da semente haveria de se perder, valia a pena continuar semeando.
• O discípulo do Reino, como o semeador, não pode deixar de semear a semente da Palavra de Deus, mesmo sabendo que seu trabalho não frutificará cem por cento. Ele deve contar com a perda inevitável e se contentar com o que for produzido de bom, embora seja pouco.
• A condição precária do terreno impedia que a semente desses frutos. Talvez chegasse a germinar e tentar crescer. Sua sorte, porém, era murchar e morrer. Só uma pequena porção de semente caía em terreno fértil e chegava a frutificar. Mesmo assim, a colheita variava na base de cem, sessenta e trinta por um.

 




Pe. Edivânio José.

 

 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Homília da Terça-feira da 16ª semana do Tempo Comum

I. Introdução

Maria quer ver o seu Filho… e não consegue porque a casa está casa repleta de gente escutando a seu Filho. À primeira vista, a reação de Jesus soa como um desprezo a sua Mãe. Mas é todo o contrário!

Cristo alaba a sua Mãe no mais importante de um bom filho de Deus: a obediência à vontade divina. Você lembra das palavras com que a Virgem respondeu ao Arcanjo São Gabriel

 

II. Comentário

Hoje Jesus Cristo indica como “seus” aqueles que cumprem com a vontade do Pai Celestial. Mas, não pareceria isso como uma exageração, inclusive “antinatural”? Surge na nossa memória o drama de Getsêmani, onde a vontade humana de Jesus parece “pugnar” contra a sua própria vontade divina (é Deus Filho!), que devia se identificar com a do Pai.

Na realidade, o misterioso não é tanto aquela “pugna” de vontades em Cristo, mas bem nossa “esquizofrenia” ao esquecer o querer do Pai. Desde que foi criada, a vontade humana está orientada à divina. Ao assumir a vontade divina, nossa vontade atinge seu cumprimento, não a sua destruição. Mas o homem, pela “estreiteza original”, tende a sentir ameaçada a sua liberdade pela vontade do Pai. Este distanciamento é, justamente, o que mais faz sofrer Jesus no Monte das Oliveiras.

Jesus, nossa obstinação contra Deus esteve presente na tua oração. Com a tua sangrenta “pugna” interior em Getsêmani, arrastas a nossa natureza “obstinada” para a sua verdadeira razão de ser: o Pai.

III. Atualização
• Hoje, o Evangelho apresenta-se-nos, de início, algo surpreendente: Quem é minha mãe (Mt 12,48), pergunta-se Jesus. Parece que o Senhor tem uma atitude depreciativa para com Maria. Não é isso. O que Jesus quer deixar claro aqui é que aos seus olhos - os olhos de Deus! - o valor decisivo da pessoa não reside no aspecto da carne ou do sangue, mas na disposição espiritual de aceitação da vontade de Deus: E, estendendo a mão para os discípulos», acrescentou: Eis minha mãe e meus irmãos. 
• Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe» (Mt 12,49-50). Naquele momento, a vontade de Deus era que Ele evangelizasse aqueles que O ouviam e que eles O escutassem. Isso estava acima de qualquer outro valor, por mais entranhável que fosse. Para fazer a vontade do Pai, Jesus Cristo tinha deixado Maria e agora estava a pregar longe de casa.



 

 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Homília da Segunda-feira da 16ª semana do Tempo Comum

I. Introdução

Hoje, também nos colocamos perante a questão de como “chegar” a Deus: temos algum “sinal” da sua existência? Jesus não foge à pergunta. 

Mas a sua resposta parte da Escritura e ilumina-se com uma referência velada à sua ressurreição. Resposta que, certamente, não satisfaz as expectativas nem de aqueles nem de alguns modernos interlocutores. 

 

II. Comentário

Hoje escutamos de Jesus uma resposta que nos cai como “uma luva”. Quando rezamos pouco nos transformamos em materialistas e, então, só aceitamos como verdadeiro o que se pode palpar. Além disso pretendemos que Deus se adapte a este estúpido modo de pensar. E o “sinal de Jonas” (a ressurreição de Cristo) não podemos tocá-laPodemos aceitar!

O materialista estaria disposto a aceitar um Deus que demonstre que é Deus, mas um Deus assim já não é Deus, senão um palhaço. Você onde gostaria de ir: ao céu ou ao circo?

Há um erro de base: reduzimos Deus a um objeto e impomos-lhe as nossas condições laboratoriais, assumindo como real somente o que é experimentável e palpável. Mas Deus não se deixa submeter a experiências! Por esse caminho não o encontraremos, porque isso pressupõe negar Deus como Deus, situando-nos acima dele. Quem discorrer deste modo “auto endeusa-se”, desagradando não só a Deus, mas também ao mundo e a si próprio.

Jesus, obrigado porque não vieste impor-te com evidências palpáveis, antes nos conquistas discretamente, através do amor amavelmente manifestado na Cruz e da escuta interior na oração.

 

III. Atualização
• Jesus é o sinal maior. Neste dia a Palavra é um convite para que cada um de nós compreenda, com humildade, que só um coração convertido, voltado para Deus, pode acolher, interpretar e viver este sinal que é Jesus. A humildade é a realidade que nos aproxima não só de Deus, mas também da humanidade. Pela humildade reconhecemos as nossas limitações e virtudes, mas sobretudo vemos os outros como irmãos e Deus como Pai.
• A resposta de Jesus é clara: «Nenhum sinal lhe será dado» (cf. Mt 12,39), não por ter medo, mas para centrar e recordar que os “sinais” são relação de comunhão e amor entre Deus e a humanidade e não de interesses e poderes individuais. Jesus recorda que há muitos sinais dados por Deus, não é provocando ou chantageando Deus, que se consegue chegar a Ele.



Pe. Edivânio José.