I. Introdução
II. Comentário
parecer quase idênticos, já que se encontram no mesmo lugar, realizando a mesma
atividade: ambos «subiram ao templo para orar» (Lc 18,10).
Porém, para além das aparências, no mais profundo das suas consciências, os
dois homens são radicalmente diferentes: um, o fariseu, tem a consciência tranquila,
enquanto que o outro, o publicano—cobrador de impostos — está inquieto devido a
sentimentos de culpa.
Ratzinger (“Consciência e verdade”), afasta a falsa tranquilidade de consciência e
podemos chamar-lhe “protesto da consciência” contra a minha existência auto-
satisfeita.
III.
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Hoje, Cristo apresenta-nos dois homens que, a um observador casual, podiam
Hoje em dia tendemos a considerar os sentimentos de culpa – os remorsos —
como algo próximo de uma aberração psicológica.
Contudo, o sentimento de culpa permite ao publicano sair reconfortado do
Templo, uma vez que «este voltou para casa justificado, mas o outro não» (Lc 18,14).
«O sentimento de culpa», escreveu Bento XVI, quando ainda era Cardeal
É tão necessário para o homem como a dor física, que significa uma alteração
corporal do funcionamento normal».
Jesus não nos induz a pensar que o fariseu não esteja a dizer a verdade quando
afirma que não é ladrão, nem desonesto, nem adúltero e paga o dízimo no Templo
(cf. Lc 18,11); nem que o cobrador de impostos esteja a delirar ao considerar-se a si
próprio como um pecador.
A questão não é essa. O que realmente acontece é que «o fariseu não sabe que
também tem culpas. Ele tem uma consciência plenamente clara.
Mas o “silêncio da consciência” fá-lo impenetrável perante Deus e perante os
homens, enquanto que o “grito de consciência”, que inquieta o publicano, o torna
capaz da verdade e do amor. Jesus pode remover os pecadores!» (Bento XVI).
Atualização
Hoje, Jesus Cristo ilustra graficamente a relação entre “ethos” (personalidade
ou natureza humana) e “graça”. O fariseu se vangloria de suas muitas virtudes;
o publicano conhece seus pecados, sabe que não pode se vangloriar ante Deus
e, consciente de sua culpa, pede graça. Isto significa que um representa o
“ethos” e o outro a graça sem “ethos” ou contra o "ethos"?
Na realidade trata-se de duas maneiras de se situar ante Deus e ante si
mesmo. Um nem olha a Deus, mas só a si mesmo; o outro se vê em relação
com Deus e, com isso, abre-se lhe o olhar para si mesmo (sabe que tem
necessidade de Deus e que tem de viver de sua bondade). Não se nega o
“ethos” só se lhe libera da estreiteza do moralismo e se lhe coloca no contexto
da relação de amor com Deus.
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A graça que imploro não me isenta do “ethos”: preciso de Deus e, graças a sua
bondade, eu posso me encaminhar à Bondade.
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