sábado, 26 de março de 2022

Homília do Sábado da 3° semana da Quaresma

I. Introdução

II. Comentário

   parecer quase idênticos, já que se encontram no mesmo lugar, realizando a mesma

 atividade: ambos «subiram ao templo para orar» (Lc 18,10).

 Porém, para além das aparências, no mais profundo das suas consciências, os

 dois homens são radicalmente diferentes: um, o fariseu, tem a consciência tranquila,

 enquanto que o outro, o publicano—cobrador de impostos — está inquieto devido a

  sentimentos de culpa.

  Ratzinger (“Consciência e verdade”), afasta a falsa tranquilidade de consciência e

 podemos chamar-lhe “protesto da consciência” contra a minha existência auto-

 satisfeita.

 III.

Hoje, Cristo apresenta-nos dois homens que, a um observador casual, podiam

Hoje em dia tendemos a considerar os sentimentos de culpa – os remorsos —

 como algo próximo de uma aberração psicológica.

 Contudo, o sentimento de culpa permite ao publicano sair reconfortado do

 Templo, uma vez que «este voltou para casa justificado, mas o outro não» (Lc 18,14).

 «O sentimento de culpa», escreveu Bento XVI, quando ainda era Cardeal

É tão necessário para o homem como a dor física, que significa uma alteração

 corporal do funcionamento normal».

 Jesus não nos induz a pensar que o fariseu não esteja a dizer a verdade quando

 afirma que não é ladrão, nem desonesto, nem adúltero e paga o dízimo no Templo

 (cf. Lc 18,11); nem que o cobrador de impostos esteja a delirar ao considerar-se a si

 próprio como um pecador.

 A questão não é essa. O que realmente acontece é que «o fariseu não sabe que

 também tem culpas. Ele tem uma consciência plenamente clara.

 Mas o “silêncio da consciência” fá-lo impenetrável perante Deus e perante os

 homens, enquanto que o “grito de consciência”, que inquieta o publicano, o torna

 capaz da verdade e do amor. Jesus pode remover os pecadores!» (Bento XVI).

  Atualização

 Hoje, Jesus Cristo ilustra graficamente a relação entre “ethos” (personalidade

ou natureza humana) e “graça”. O fariseu se vangloria de suas muitas virtudes;

 o publicano conhece seus pecados, sabe que não pode se vangloriar ante Deus

 e, consciente de sua culpa, pede graça. Isto significa que um representa o

 “ethos” e o outro a graça sem “ethos” ou contra o "ethos"?

  Na realidade trata-se de duas maneiras de se situar ante Deus e ante si

mesmo. Um nem olha a Deus, mas só a si mesmo; o outro se vê em relação

 com Deus e, com isso, abre-se lhe o olhar para si mesmo (sabe que tem

 necessidade de Deus e que tem de viver de sua bondade). Não se nega o

 “ethos” só se lhe libera da estreiteza do moralismo e se lhe coloca no contexto

 da relação de amor com Deus.

 

 A graça que imploro não me isenta do “ethos”: preciso de Deus e, graças a sua

bondade, eu posso me encaminhar à Bondade.


 

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