I. INTRODUÇÃO
O evangelho deste domingo apresenta Jesus falando dos mistérios do Reino de Deus em parábolas. Por que Jesus fala em parábolas? Os sábios mestres de seu tempo ensinavam em linguagem parabólica. Era um modo comum, pois as parábolas eram retiradas de realidades do dia a dia, muito familiares aos ouvintes.
Numa sociedade rural, falar de lançar a semente na terra era referir-se a algo de conhecimento geral. O processo de semeadura e de crescimento da semente todos conheciam; sabiam que era devagar e que, para dar frutos, eram necessários tempo e cuidado.
Jesus aplica essa metáfora para falar do processo de discipulado, que exige o tempo do anúncio, à espera da adesão e a conversão, para dar frutos na comunidade.
II. COMENTÁRIO
1. I leitura (Ez 17,22-24)
Estes poucos versículos contêm um imenso capital de esperança, que deve alimentar e animar, hoje como ontem, a caminhada do Povo de Deus pela história.
É precisamente aqui que se encaixa o oráculo de salvação que a primeira leitura deste domingo nos apresenta: não, apesar das dramáticas circunstâncias do tempo presente, Deus não abandonou o seu Povo, mas irá construir com ele uma história nova, de salvação e de graça.
O exílio trouxe grande mudança para a concepção de Israel sobre Deus; agora lhe fica evidente o cuidado amoroso de Deus, como aquele amigo fiel que em nenhuma circunstância abandona seu povo, mas buscará novos caminhos para conduzi-lo na justiça e na liberdade.
2. II leitura (2Cor 5,6-10)
Este texto de Paulo aos coríntios toca o coração de seus leitores e ouvintes. O apóstolo recorda que estar no corpo é como estar no exílio, fazendo uma alegoria com o período histórico em que Israel se sentiu distante de Deus por estar longe da sua terra e do seu lugar sagrado.
Neste contexto, a palavra de Paulo aos cristãos de Corinto soa a desafio profético: é necessário que tenhamos sempre diante dos olhos a nossa condição de "peregrinos" nesta terra e que aprendamos a dar valor àquilo que tem a marca da eternidade. É nos valores duradouros - e não nos valores efémeros e passageiros - que encontramos a vida plena. O fim último da nossa existência não está nesta terra; o nosso horizonte e as nossas apostas devem apontar sempre para o mais além, para a vida plena e definitiva.
A leitura nos deixa como mensagem que a vida na terra é passageira. O tempo de exílio neste mundo se caracteriza por um conhecimento parcial de Deus; é o tempo que exige fé, enquanto ansiamos pelo tempo do encontro face a face com o Senhor.
3. Evangelho (Mc 4,26-34)
Hoje, Jesus nos oferece duas imagens de grande intensidade espiritual: a parábola do crescimento da semente e a parábola do grão de mostarda. São imagens da vida ordinária que resultavam familiares aos homens e mulheres que o escutavam, acostumados como estavam a semear, regar e colher. Jesus utiliza algo que lhes era conhecido a agricultura para lhes ilustrar sobre algo que não lhes era conhecido: O Reino de Deus.
Efetivamente, o Senhor lhes revela algo de seu reino espiritual. Na primeira parábola lhes disse: “O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra” (Mc 4,26) e introduz a segunda dizendo: “Com que ainda podemos comparar o Reino de Deus? É como um grão de mostarda” (Mc 4,30).
A maior parte de nós temos já pouco em comum com os homens e mulheres do tempo de Jesus e, porém, estas parábolas continuam ressoando nas nossas mentes modernas, porque detrás do semear, do regar e da colheita, intuímos o que Jesus nos está dizendo: Deus enxertou algo divino nos nossos corações humanos.
O que é o Reino de Deus? “É Jesus mesmo”, nos lembra Bento XVI. E nossa alma “é o lugar essencial onde se encontra o Reino de Deus” Deus quer viver e crescer no nosso interior! Procuremos a sabedoria de Deus e obedeçamos a suas insinuações interiores; se o fazemos, então nossa vida adquirirá uma força e intensidade difíceis de imaginar.
Se correspondermos pacientemente a sua graça, sua vida divina crescerá na nossa alma como a semente cresce no campo, tal como o místico medieval Meister Eckhart expressou belamente: “A semente de Deus está em nós”. Se o agricultor é inteligente e trabalhador, crescerá para ser Deus, cuja semente é, seus frutos serão da natureza de Deus.
III. ATUALIZAÇÃO
• O projeto de salvação que Deus tem para a humanidade revela-se no anúncio do Reino, feito por Jesus de Nazaré. Nas suas palavras, nos seus gestos, Jesus propôs um caminho novo, uma nova realidade; lançou a semente da transformação dos corações, das mentes e das vontades, de forma a que a vida dos homens e das sociedades se construa de acordo com os esquemas de Deus.
• Essa semente não foi lançada em vão: está entre nós e cresce por ação de Deus. Resta-nos acolher essa semente e deixar que Deus realize a sua ação. Resta-nos também, como discípulos de Jesus, continuar a lançar essa semente do Reino, a fim de que ela encontre lugar no coração de cada homem e de cada mulher.
• A referência à pequenez da semente, na segunda parte do evangelho, convida-nos a rever nossos critérios de atuação no serviço à Igreja e nossa forma de olhar o mundo e os irmãos. Às vezes não damos importância ao simples, ao pequeno e às coisas que nos parecem insignificantes, nas quais Deus se revela.
• Ele está nos humildes, nos pobres, nos pequenos, nas crianças, nos que renunciam a esquemas de triunfalismo e ostentação; e é deles que se serve para transformar o mundo. A parábola da semente lançada na terra nos traz grandes ensinamentos, sobretudo o de não nos deixarmos levar por tentações de ostentação, orgulho, prepotência e não reconhecimento da ação divina nos pequenos acontecimentos.
Pe. Edivânio José.