Hoje celebramos o nascimento do Batista. São João é um homem de grandes contrastes: Vive o silêncio do deserto, mas desde aí move as massas; é humilde para reconhecer que ele somente é a voz não é a Palavra, mas é capaz de acusar e denunciar as injustiças inclusive aos mesmos reis. Silencioso e humilde, é também corajoso e decidido até derramar seu sangue.
João Batista é um grande homem! Talvez o segredo de sua grandeza esteja em sua consciência de saber-se escolhido por Deus. Toda sua infância e juventude estiveram marcadas pela consciência de sua missão.
Dar testemunho; e o faz batizando a Cristo no Jordão, preparando para o Senhor um povo bem disposto e, no final de sua vida, derramando seu sangue em favor da verdade.
O texto que hoje nos é proposto é parte do segundo cântico do “servo de Jahwéh”. É, portanto, essa figura misteriosa de “servo” de Deus, chamado à missão profética que aqui nos é apresentada.
A missão a que o profeta é chamado por Deus tem a ver com a Palavra (v. 2). O profeta é o homem a quem Deus elegeu, a fim de que a sua Palavra chegue aos outros homens; através dele, Deus dirige-nos as suas propostas e propõe aos homens um caminho que os leva a viver em relação com Deus.
A ideia fundamental que brota deste texto é a certeza de que é Deus quem está por detrás de toda a experiência profética… É Deus quem elege o profeta e quem lhe destina uma missão, desde o seio materno; é Deus quem coloca a sua Palavra na boca do profeta; é Deus quem protege o profeta e quem o recompensa… Seria impensável falarmos em profecia, sem falarmos de Deus.
A segunda leitura, trata-se do primeiro discurso posto por Lucas na boca de Paulo; contém alguns dos temas que estarão presentes de agora em diante, na sua pregação aos pagãos.
O discurso posto por Lucas na boca de Paulo consta, sobretudo, de reflexões sobre o Antigo Testamento. Faz uma rápida síntese da “história da salvação”, indicando alguns dos seus fios condutores, para mostrar que tudo converge para Jesus e que tudo culmina em Jesus.
O profeta é alguém chamado a testemunhar Deus no meio dos homens, mesmo quando os homens preferem ignorar Deus e edificar a sua vida à margem de Deus. João Batista, o profeta, assumiu plenamente a missão de testemunhar Deus: convocou os homens para o encontro com o Deus incarnado, convidou os homens a despirem o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, a violência, a ganância, e a preparar o coração para acolher a proposta de salvação que Deus veio fazer, em Jesus.
Na época em que Lucas escreve, as comunidades cristãs conhecem os discípulos de João, cuja atividade proselitista chegou à Ásia Menor (At 18,24-19,7). Provavelmente, havia quem confundia João com o Messias. Neste contexto, a comunidade lucana quis deixar claro o papel relevante de João na economia da salvação, mas, ao mesmo tempo, afirmar a subordinação de João a Jesus.
A superioridade de Jesus em relação a João está, aliás, bem patente na diferença entre o relato do anúncio do nascimento de João e o relato do anúncio do nascimento de Jesus; está também patente no encontro de Maria com Isabel, em que a própria mãe de João proclama Maria como a mãe do seu Senhor, reconhecendo a inferioridade do seu filho em relação a Jesus (Lc 1,39-45); está, ainda, patente no relevo dado pelo evangelista ao relato do nascimento de Jesus (que é longo, rico de pormenores e está carregado de teologia) em detrimento do relato do nascimento de João (que é contado em poucas linhas, sem grande riqueza de detalhes).
Jesus causa uma reviravolta na sociedade do seu tempo. Os leprosos carregavam o peso da marginalização religiosa e social. Por sua condição de impuros, e conforme o que se ensinava na sinagoga, eles pensavam estar excluídos do acesso ao Reino de Deus.
Um desses infelizes percebe em Jesus a predileção pelos abandonados, a manifestação da bondade de Deus, o cumprimento da promessa de libertação dos oprimidos. Rompe a barreira e encurta a distância que o separa do Mestre, que lhe favorece a aproximação e lhe atende o pedido: “Estendeu a mão e, tocando nele, Jesus disse: ‘Eu quero. Fique purificado'”. Em torno de Jesus fervilha a vida, o mal se retrai, irrompe o mundo novo: é o encontro da misericórdia de Deus com a fé do ser humano.
Pe. Edivânio José.
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