terça-feira, 25 de maio de 2021

Orígenes: O caminho humano-espiritual.

 Percebi que suas considerações sobre os questionamentos eternos do ser humano, se bem compreendidas, poderiam ser tão atuais hoje como em seu tempo, e que sua obra literária estava repleta de indicações que, corretamente traduzidas, poderiam servir para orientar a busca espiritual daqueles que hodiernamente vagam de seita em seita, de um movimento espiritual a outro, em busca de um caminho que satisfaça seus anseios de espiritualidade.

Percebi que o caminho do progresso de nossa mente, que pode se expandir em três direções: para o interior, para os nossos semelhantes ou para Deus. Ou pode se retrair e cristalizar-se, ligando-se apenas aos aspectos do mundo objetivo. Esse conceito foi desenvolvido no pensamento platônico na ocasião em que a mente humana fez um novo trajeto em busca da realidade do homem e do mundo.

A totalidade passa a ser composta por dois mundos: pelo mundo sensível como aparência do mundo suprassensível e pelo mundo suprassensível constituído pelas ideias-mestras, que são somente pensáveis. O caminho da mente humana passa a ser a passagem do mundo sensível para o suprassensível, ou também conhecido como inteligível.

Conceitos-chave da filosofia platônica que permitem acompanhar esse caminho são philia e Eros. O filósofo considera que o desejo da primeira coisa amiga é dirigido àquilo de que se carece. E aquilo de que se é carente é sempre um bem mais elevado em diferente nível, que evoluindo em nível em nível atinge um princípio amigo, ou seja, um primeiro e supremo Bem, do qual dependem todos os bens e qual são apenas imagens. É essa busca do Bem que funda toda amizade é a verdadeira fonte e o fundamento do amor, em função de que se amam todas as coisas particulares. O desejo é considerado como uma causa da amizade e do amor, e quem cria um elo entre eles.

Aristóteles, discípulo de Platão, discorda de seu mestre e atribui à philia uma utilidade. Ele a considera apenas como a ligação entre as pessoas, atribuindo ao Eros a ligação com a beleza. Dissocia-os, assim, sem considerar o elo do desejo une philia com o Bem e Eros com o Belo.

Reale alerta que não se pode limitar o alcance da amizade e do amor à esfera antropológica, pois Platão desde o primeiro momento em que fala de philia e de Eros imprime uma dimensão cósmica, criando o nexo com o Bem e a Medida absoluta. Ele afirma o seguinte sobre o diálogo Lisis:

A força do primeiro princípio de todo amor é estendida além do mundo humano: ele é o bem ao qual tendem e desejam todas as coisas, não apenas nós. Portanto, a amizade e o amor dos homens é o reflexo no nível antropológico da estrutura metafísica de toda a realidade e dos seus nexos fundadores (REALE, 2004, p. 347-348).



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