quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Homilia da Quinta-feira da 1a semana do Advento

I. Introdução

 Hoje, o Senhor pronuncia estas palavras no final do Seu “Sermão da Montanha”, no qual dá um sentido novo e mais profundo aos Preceitos do Antigo Testamento, a “palavra” de Deus aos homens.

II. Comentário

Manifesta-se como Filho de Deus, e como tal pede-nos que recebamos o que nos diz como palavras de suma importância; palavras de vida eterna que devem ser postas em prática, e não são só para serem ouvidas, mas sem implicação pessoal – com o risco de serem esquecidas ou de nos contentarmos em admirá-las ou em admirar o seu autor.

«Construir uma casa sobre a areia» (cf. Mt 7,26) é uma imagem para descrever um comportamento insensato, que não leva a nenhum resultado e acaba no fracasso de uma vida, depois de um esforço longo e penoso para construir algo. “Bene curris, sed extra viam”, dizia Sto. Agostinho: corres bem, mas fora do trajecto aprovado, podemos traduzir assim. Que pena só chegar até aí: o momento da prova, das tempestades e das inundações que a nossa vida necessariamente contém!

O Senhor quer ensinar-nos a usar um fundamento sólido, cujo crescimento deriva do esforço para pôr em prática os seus ensinamentos, vivendo-os dia a dia no meio dos pequenos problemas que Ele tratará de resolver. A nossa resolução diária de viver os ensinamentos de Cristo deve terminar em propósitos concretos, se não definitivos, mas dos quais possamos tirar alegria e reconhecimento na hora do nosso exame de consciência, à noite. A alegria de ter conseguido uma pequena vitória sobre nós próprios é uma preparação para outras batalhas, e – com a graça de Deus – não nos faltará a força para perseverar até ao fim.

II. Atualização

• «Permanecei vigilantes porque, quando a alma está dominada por um pesado torpor, é

o inimigo que a domina e a conduz, mesmo contra a sua vontade. Por isso, o Senhor

recomendou ao homem a vigilância tanto da alma como do corpo» (Santo Efrém)

• «O Evangelho de hoje (Mt 7,21ss) trata de uma equação matemática: Eu conheço a Palavra e a coloco em prática. Eu sou construído sobre a rocha. Agora, como faço para colocar a palavra em prática? É mesmo como construir uma casa na rocha, onde a

imagem da pedra refere-se ao Senhor» (Francisco)

• «A oração de fé não consiste somente em dizer «Senhor, Senhor!», mas em preparar o

coração para fazer a vontade do Pai (Mt 7,21). Jesus exorta os seus discípulos a levar para a oração esta solicitude em cooperar com o desígnio de Deus (cf. Mt 9,38)» (Catecismo da Igreja Católica,2.611)




quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Homilia da Quarta-feira da 1a semana do Advento.

Introdução

Hoje, contemplamos no Evangelho a multiplicação dos pães e peixes. Muitas pessoas —comenta o evangelista Mateus — «iam até ele» (Mt 15,30) ao Senhor. Homens e mulheres que necessitam de Cristo, cegos, coxos e doentes de todo tipo, assim como outros que os acompanhavam. Todos nós também temos necessidade de Cristo, de sua ternura, do seu perdão, da sua luz, da sua misericórdia... Nele acha-se a plenitude do humano.

II. Comentário

O Evangelho de hoje nos ajuda a dar-nos conta, também, da necessidade de homens que conduzam outros a Jesus Cristo. Os que levam os doentes a Jesus para que os cure são imagem de todos aqueles que sabem que o maior ato de caridade para com o próximo é aproximá-lo a Cristo, fonte de toda a Vida. A vida de fé exige, portanto, a santidade e o apostolado.

São Paulo exorta a ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cf. Fl 2,5). Nosso relato mostra como é o coração: «Sinto compaixão dessa multidão» (Mt 15,32). Não pode deixá-los porque estão famintos e fatigados. Cristo busca o homem em toda a necessidade e faz-se encontrado. Que bom é o Senhor conosco!; e que importantes somos as pessoas diante dos seus olhos! Só em pensá-lo dilata-se o coração humano cheio de agradecimento, admiração e desejo sincero de conversão.

Esse Deus feito homem, que tudo pode, e que nos ama apaixonadamente e a quem necessitamos em tudo e para tudo —«sem mim, nada podeis fazer» (Jo 15,5)— precisa, paradoxalmente, também de nós: esse é o significado dos sete pães e os poucos peixes que usará para alimentar a multidão do povo. Se nos déssemos conta de como Jesus se apoia em nós, e do valor que tem tudo o que fazemos para Ele, por pequeno que seja, nos esforçaríamos mais e mais para Lhe corresponder com todo o nosso ser.

III. Atualização

• «Doente, a nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser

ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir.

Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz» (São Gregório de Nissa)

• «A Misericordia é o segundo nome do Amor» (Francisco).

• «A compaixão de Cristo (...) para com todos os que sofrem vai ao ponto de identificar-

Se com eles: «Estive doente e visitastes-Me» (Mt 25, 36). O seu amor de predilecção para com os enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção particular dos cristãos para aqueles que sofrem no corpo ou na alma. Ele está na origem de incansáveis esforços para os aliviar» (Catecismo da Igreja Católica, no 1.503).



terça-feira, 30 de novembro de 2021

Homilia da Terça-feira da 1° Semana do Advento: Santo André, apóstolo.


I. Introdução

Hoje, é a festa de Santo André, Apóstolo, uma festa celebrada de maneira solene entre os cristãos de Oriente. Ele foi um dos primeiros jovens a conhecer Jesus à beira do rio Jordão e a ter longas conversas com Ele. Em seguida procurou seu irmão Pedro, dizendo-lhe «Encontramos o Cristo!» e o levou onde estava Jesus (Jo 2,41).

II. Comentário

Logo depois, Jesus chamou a esses dois irmãos pescadores seus amigos como lemos no Evangelho de hoje: «Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens» (Mt 4,19). No mesmo povoado, havia outros dois irmãos, Tiago e João, colegas e amigos daqueles primeiros e pescadores como eles.

Jesus também os chamou para que O seguissem. É maravilhoso ler que eles deixaram tudo e O seguiram “imediatamente”, palavras que se repetem em ambos os casos. Não podemos dizer a Jesus: “depois”, “logo”, “agora tenho muito trabalho...”

Também a cada um de nós — a todos os cristãos — Jesus nos pede cada dia que ponhamos todo o que temos e somos ao seu serviço —isso quer dizer, deixar tudo, não ter nada como próprio— para que, vivendo com Ele as tarefas de nosso trabalho profissional e de nossa família, sejamos “pescadores de homens”.

O que quer dizer “pescadores de homens”? Uma bonita resposta pode ser um comentário de São João Crisóstomo. Este Padre e Doutor da Igreja, diz que André não sabia explicar bem a seu irmão Pedro quem era Jesus, e por isso, «o levou à fonte da própria luz», que é Jesus Cristo. “Pescar homens” quer dizer ajudar os que estão ao nosso redor na família e no trabalho para encontrarem a Cristo que é a única luz para nosso caminho.

III. Atualização

• «Pedro e André não tinham visto que Jesus Cristo tivesse feito algum milagre. Nada

tinham ouvido do prêmio eterno e, porém ao ouvir a voz do Salvador se olvidaram de

tudo o que acreditavam ter» (São Gregório Magno)

• «Que o apóstolo André nos ensine a seguir a Jesus com prontidão, a falar com

entusiasmo de Ele, e sobretudo a cultivar com Ele uma relação de autêntica familiaridade, consentes de que só em Ele podemos encontrar o sentido último de nossa vida e de nossa morte» (Bento XVI)

• «Cristo Senhor (...) ordenou aos Apóstolos, que anunciassem a todos o Evangelho, o qual, antes prometido pelos profetas, ele próprio cumpriu e promulgou por sua palavra, como fonte de toda verdade salvífica e toda regra moral» (Catecismo da Igreja Católica, n°75)

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Homilia da Segunda-feira da 1a semana do Advento.

I. Introdução

Hoje, Cafarnaum é a nossa cidade e a nossa aldeia, onde há pessoas doentes, umas conhecidas, outras anônimas, frequentemente esquecidas por causa do ritmo frenético que caracteriza a vida atual: carregados de trabalho, vamos correndo sem parar e sem pensar naqueles que, por causa da sua doença ou de outra circunstância, ficam à margem e não podem seguir esse ritmo. Porém, Jesus nos dirá um dia: «todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25,40). O grande pensador Blaise Pascal recolhe esta ideia quando afirma que «Jesus Cristo, nos seus fieis, encontra-se na agonia de Getsemani até ao final dos tempos».

II. Comentário

O centurião de Cafarnaum não se esquece do seu criado prostrado no leito, porque o ama. Apesar de ser mais poderoso e de ter mais autoridade que o seu servo, o centurião agradece todos os seus anos de serviço e tem por ele grande admiração. Por isso, movido pelo amor, dirige-se a Jesus e na presença do Salvador faz uma extraordinária confissão de fé, recolhida pela liturgia Eucarística: «Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Diz uma só palavra e o meu criado ficará curado» (Mt 8,8).

Esta confissão fundamenta-se na esperança; brota da confiança posta em Jesus Cristo, e ao mesmo tempo, também do seu sentimento de indignidade pessoal que o ajuda a reconhecer a sua própria pobreza.

Só nos podemos [a] aproximar de Jesus Cristo com uma atitude humilde, como a do centurião. Assim poderemos viver a esperança do Advento: esperança de salvação e de vida, de reconciliação e de paz. Apenas pode esperar aquele que reconhece a sua pobreza e é capaz de perceber que o sentido da sua vida não está nele próprio mas em Deus, pondo-se nas mãos do Senhor. Aproximemo-nos com confiança de Cristo e, ao mesmo tempo, façamos nossa a oração do centurião.

III. Atualização

• «Que pensamos que Jesus alabou na fé do centurião? A humildade. A humildade do

centurião foi a porta por onde o Senhor entrou» (Santo Agostinho)

• «O Senhor maravilhou-se deste centurião. Maravilhou-se da fé que ele tinha. Por isso não somente encontrou ao Senhor, se não que sentiu a alegria de ter sido encontrado

pelo Senhor. É muito importante!» (Francisco)

• Perante a grandeza deste sacramento [a eucaristia], o fiel só pode retomar

humildemente e com ardente fé a palavra do centurião: « Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei salvo» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1386)



domingo, 28 de novembro de 2021

Homilia do I Domingo do Advento

 I. Introdução

Hoje, justamente ao começar um novo ano litúrgico, fazemos o propósito de renovar nossa ilusão e nossa luta pessoal visando à santidade, própria e de todos.

A própria Igreja nos convida, recordando-nos no Evangelho de hoje, a necessidade de estar sempre atentos, sempre “enamorados” do Senhor: «Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida» (Lc 21,34).

II. Comentário

Reparemos num detalhe que é importante entre namorados: essa atitude de alerta — de preparação— não pode ser intermitente, mas deve ser permanente. Por isso, nos diz o Senhor: «ficai atentos e orai a todo momento» (Lc 21,36). A todo momento!: essa é a justa medida do amor.

A fidelidade não se faz na base de “agora sim, agora não”. É, portanto, muito conveniente que nosso ritmo de piedade e de preparação espiritual seja um ritmo habitual (dia a dia e semana a semana). Tomara que cada jornada da nossa vida vivamo-la com a mentalidade de estrearmos; tomara que cada manhã —ao acordarmos— logremos dizer: Hoje volto a nascer (obrigado, meu Deus!); hoje volto a receber o Batismo; hoje volto a fazer a Primeira Comunhão; hoje me caso novamente... Para perseverar com ar alegre, há de se “re- estrear” e se renovar.

Nesta vida não temos cidade permanente. Chegará o dia que incluso «as potências celestes serão abaladas» (Lc 25,26). Bom motivo para permanecer em estado de alerta! Mas, neste Advento, a Igreja acrescenta um motivo muito bonito para nossa gozosa preparação: certamente, um dia os homens «verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem, com grande poder e glória» (Lc 25,27), mas agora Deus chega à terra com mansidão e discrição; em forma de recém-nascido, até o ponto que «Cristo viu-se envolto em fraldas dentro de um presépio» (São Cirilo de Jerusalém).

Somente um espírito atento descobre neste Menino a magnitude do amor de Deus e sua salvação (cf. Sajustamente ao começar um novo ano litúrgico, fazemos o propósito de renovar nossa ilusão e nossa luta pessoal visando à santidade, própria e de todos. A própria Igreja nos convida, recordando-nos no Evangelho de hoje, a necessidade de estar sempre atentos, sempre “enamorados” do Senhor: «Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida» (Lc 21,34).

III. Atualização

• Jesus pede-nos um espírito desperto e vigilante. Acontece algo? Sim, Cristo veio à

terra há vinte séculos e muitos ainda não sabem ou não fazem caso: os seus corações

estão muito ocupados com coisas e mais coisas.

• A liberdade serve sobretudo para amar, não para se entreter.

• Quando rezamos somos capazes de honrar Deus no meio deste mundo tão

apaixonante, gozando das coisas sem deixar-nos roubar o coração pelas coisas.

• Só há um amor que tem o direito de “roubar” o meu coração!



sábado, 27 de novembro de 2021

Homília do Sábado da 34° semana do tempo comum Comentário

 Hoje, Jesus pede-nos um espírito desperto e vigilante. Acontece algo? Sim,

 Cristo veio à terra há vinte séculos e muitos ainda não sabem ou não fazem caso: os

 seus corações estão muito ocupados com coisas e mais coisas. A liberdade serve

 sobretudo para amar, não para se entreter.

 Quando rezamos somos capazes de honrar Deus no meio deste mundo tão

 apaixonante, gozando das coisas sem deixar-nos roubar o coração pelas coisas. Só

  há um amor que tem o direito de “roubar” o meu coração!




sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Homília da Sexta-feira da 34° semana do tempo comum

I. Introdução

II. Comentário

  Hoje admiramos aos primeiros cristãos discernindo os sinais do seu tempo:

 deviam-se reunir e ler juntos os fragmentos —misteriosos— da palavra de Jesus

 Cristo. Tarefa nada fácil, que enfrentaram a partir de Pentecostes e, antes do fim

 material do Templo, todos os elementos essenciais desta nova síntese

 encontravam-se já na teologia paulina.

  Para predicar e orar, a Igreja nascente reunia-se em o Templo, mas o “partir o

pão” (o novo centro “cultual”, relacionado com a “Ultima Ceia”, morte e

 ressurreição do Senhor) acontecia em casa. Nesse momento já se perfilava, pois,

 uma distinção essencial: os sacrifícios substituíram-se por o “partir o pão”.

 Na nova síntese teológica destacam-se dois nomes. Para Estevão começou um

 tempo novo que o leva a cumprir aquilo realmente originário: com Jesus passou

 o período do sacrifício no Templo. Mas a vida e a mensagem deste “Protomártir”

 —declarando ante o Senedrim— ficaram interrompidos com a sua lapidação.

 Correspondeu a outro, Saulo —depois São Paulo!— completar esta visão

 teológica.