I. Introdução
Hoje, vemos como os judeus, além do jejum prescrito para o Dia da Expiação (cf. Lev 16,29-34), observavam muitos outros jejuns, tanto públicos como privados. Eram expressão de dor, de penitência, de purificação, de preparação para uma festa ou uma missão, de pedido a Deus de uma graça, etc.
II. Comentário
Os judeus piedosos consideravam o jejum como um ato próprio da virtude da religião e algo muito grato a Deus: aquele que jejua dirige-se a Deus em atitude de humildade, pede-lhe perdão, privando-se de algo que, causando-lhe satisfação, o iria afastar dele.
O fato de Jesus não incutir esta prática nos seus discípulos e naqueles que O escutavam, surpreende os discípulos de João e os fariseus. Pensam que se trata de uma omissão importante nos Seus ensinamentos. E Jesus dá-lhes uma razão fundamental: « Podem por acaso os convidados do casamento jejuar enquanto o noivo está com eles?» (Mc 2,19). Segundo a interpretação dos profetas de Israel, o esposo é o próprio Deus, e é manifestação do amor de Deus pelos homens (Israel é a esposa, nem sempre fiel, objeto do amor fiel do esposo, Yahvéh). Ou seja, Jesus equipara-se a Yahvéh. Declara aqui a sua divindade: chama aos seus amigos «os amigos do esposo», os que estão com Ele, e então não precisam de jejuar porque não estão separados dele.
A Igreja permaneceu fiel a este ensinamento que, vindo dos profetas e sendo até uma prática natural e espontânea em muitas religiões, é confirmado por Jesus Cristo, que lhe dá um sentido novo: jejua no deserto como preparação para a Sua vida pública, diz-nos que a oração se fortalece com o jejum, etc.
Entre aqueles que escutavam o Senhor, a maioria seria constituída por pobres, que saberiam de remendos em roupas; haveria vindimadores que saberiam o que acontece quando o vinho novo se deita em odres velhos. Jesus recorda-lhes que têm de receber a Sua mensagem com espírito novo, que rompa o conformismo e a rotina das almas envelhecidas, que o que Ele propõe não é mais uma interpretação da Lei, mas uma vida nova.
III. Atualização
• «A devoção deve ser exercida de várias maneiras. Além disso, a devoção deve ser
praticada de maneira adaptada às forças, aos negócios e às ocupações particulares de cada um» (São Francisco de Sales)
• «A Palavra de Deus é viva, é livre. O Evangelho é novidade. A revelação é novidade. Jesus é muito claro: vinho novo em odres novos. Deus deve ser recebido com esta abertura à novidade. E esta atitude chama-se docilidade» (Francisco)
• «Para ser autêntico, o sacrifício exterior deve ser expressão do sacrifício espiritual (...). Os profetas da Antiga Aliança denunciaram muitas vezes os sacrifícios feitos sem participação interior ou sem ligação com o amor do próximo. Jesus recorda a palavra
do profeta Oseias: ‘Eu quero misericórdia e não sacrifício’ (Mt 9, 13; 12, 7)» (Catecismo da Igreja Católica, no 2.100)
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